Aqui estamos nós. Mais
uma madrugada gelada de São Paulo, de um inverno tenebroso onde é claro, só o
álcool para ajudar a diminuir os arrepios. Parei de escrever por sempre citar a
mesma coisa. Estou com um "vício", um cacoete. Quando começo a teclar
meus pensamentos sempre sai a mesma coisa sobre a mesma coisa e isso está me
deixando com uma sensação de incapaz. Odeio isso. A incapacidade sempre bate um
pouco mais forte em meu peito por parecer que eu tenha que provar muita coisa
para um monte de gente. Não que eu tenha, mas seria uma questão de honra, por
todos os bêbados do mundo. Quando você quer levar uma vida exatamente da forma
que você quer você precisa mostrar para algumas pessoas que não é preciso ser
um filho da puta ou um bunda mole cuzão que tem que seguir todas as regras
medíocres que lhe pregam. Convenhamos, só os idiotas seguem esse tipo de
alienação pregadas por nossos avós e eu digo isso por vocês, pois eu nunca tive
avô nenhum.
Tenho assistido
algumas coisas muito trash. Nas horas vagas, que têm sido muitas. Coisas
ofensivas. Coisas desregradas, com libido à flor da pele. Violência, terror,
sangue "esporrando" por todos os lados. Agressivas como assassinatos,
pornografias extremas e mutilações, coisas do tipo. É mais ou menos como uma
droga, uma coisa mais forte para desviar esse tipo de emoção que faz com que eu
sempre escreva sobre a mesma coisa. Em busca de algo que me faça voltar ao “normal.”
Minto! Estou só tentando me enganar. Estou buscando um motivo para enraivecer e
tornar-me oco como sempre fui para parar de passar vontades que jamais matarei.
Ficou claro isso?
Sequer lembro como era
e isso me preocupa. Então tenho buscado coisas mais agressivas para chegar em
algum lugar, só que não está funcionando. Quando você passa a vida se
machucando você torna-se um Casca Grossa. Não é qualquer coisa que consegue te
ferir. Você passa a ficar imune a algumas coisas. É estranho, pois se parece
com alguém que perdeu o medo, mas ninguém perde aquilo que nunca teve e isso
está fadado ao nada, ao sem sentido, ao limbo da merda do cavalo do bandido.
Gelado como o gelo adicionado no whisky e eu odeio que adicionem gelo no meu
whisky ou em qualquer destilado. Eu gosto do original, da receita original e
nada que você tenha de adicionar alguma coisa permanece da forma como o criador
gostaria que fosse apresentada. Sirva-se de uma boa dose de whisky, num copo
propício, por favor, não cometa o pecado de beber um scotch ou um bordon em
qualquer copo. Agora olhe bem para ele. Cheire, enfie a merda do seu nariz no
copo e respire profundamente. Você consegue sentir? Isso é o cheiro da criação,
cheiro de libido, de vida. Seu sangue está começando a correr mais rápido pelas
suas veias agora, e você nem bebeu ainda.
Agora olhe para o
líquido que está em seu copo. Encare-o com verdade e mente aberta. Não importa
o preço da bebida, mas quanto maior melhor. Está olhando? Você se vê nele?
Forte, firme e com personalidade. Vai dizer que você não está querendo estar no
lugar dele? Independente de qualquer coisa, ele sai da garrafa e está pronto
para enfrentar seus problemas, mesmo que seja momentâneo ninguém está nem aí.
Pense no agora, esqueça o futuro. O futuro é um cara que levamos nos ombros sem
ter certeza nenhuma dele ou de sua fidelidade para com os nossos desejos e só o
que temos é o presente. E agora que você encarou e cheirou e está decidido, a
primeira dose você tem de tomar como homem. De uma vez só. Vamos lá, você
consegue.
Ufa! A primeira dose
já foi. É como o medo de altura, depois que você olhou para baixo uma vez o
resto é resto. Vamos para a segunda. Encare-o de novo. Bem mais fácil desta vez
não? Você já está quase pedindo para o garçom deixar a garrafa. Vê como você já
não pensa mais no futuro. Foda-se o futuro, vamos viver o hoje, o agora. Desce
a garrafa e vamos ficar bêbados e mandar o mundo e os problemas se foderem,
pois é isso que eles merecem. Um belo dedo do meio bem enfiado no cú. E vamos
torcer para que esse cú não seja o nosso.
A cada dose de whisky
vai ficando mais fácil. Depois da terceira ou quarta você nem sente mais o
amargo. É só a loucura descendo pela sua garganta. Prazerosamente descendo pela
sua garganta até o seu fígado e ele também agradece, pois é outro viciado igual
a você. O whisky não é muito diferente da vida. Quanto mais merda você põe para
fora mais fácil é para cagar depois.
Quanto mais você sofre
mais fácil fica depois.
Quanto mais murros em
ponta de faca você dá mais murros você dará. Com o sofrimento não é diferente,
e eu volto a dizer, você só pode perder aquilo que já teve um dia. E se você
quer falar de sofrimento comigo, eu já pensei em pelo menos cinquenta formas
diferentes de me suicidar. Mas isso foi em outros tempos, numa época distante.
Sempre fui um covarde nestes termos, ainda bem. Pois sequer eu mereço tanto de
mim mesmo.
Cheers.
Bento.
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