Nesses dias eu estive
pensando seriamente em entrar para o grupo dos modernos e comprar um celular
novo. Sabe? Essas coisas modernas que fazem de tudo até ligações. Bom, eu posso
comprar, porém pensei e pensei.
Se me convidar para
bebermos, atravessar São Paulo inteira conhecendo todos os bares desde os pubs
mais finos, com moças típicas de capas de revistas e cervejas à preço de ouro
com rapazes musculosos calçando aqueles terríveis sapatênis com cabelos
penteados cuidadosamente para o lado, até os botecos mais podres nos becos mais
sujos com baratas fazendo festa no teto do banheiro, mictórios com gelo e
rodelas de limão, coxinhas da semana passada e ovo colorido eu sequer penso
duas vezes antes de gastar dinheiro. Fora isso torno-me um judeu mesquinho. Minto!
Tem uma outra coisa
que não suporto gastar dinheiro e é com mulheres. Entenda o que eu quero dizer.
Não suporto comprar mulheres. Confesso que já bebi uma ou outra cerveja em
puteiros e coisas do tipo. Outro dia levei alguns primos recém descobertos na
vida noturna, para que pudessem entender o quanto de loucura é possível
usufruir em uma só noite e deixei que aproveitassem de tudo que estivesse ao
nosso alcance. A conta no final sobrou pra mim, é claro. Mas confesso que odiei
e foi mais um favor que qualquer outra coisa. Não um favor, isso pode ficar
parecendo mendigagem. Não houve. Só achei importante que se quisessem conhecer
essa vida então que seja através dos olhos de quem pode lhe conceder tamanho
aprendizado. Porém nunca me senti bem pagando por uma coisa que eu posso
evitar. Ora ora ora, as feministas zeladoras dos bons costumes arcaicos podem
estar vomitando arco-íris agora, no entanto não estou prestando favor algum a
ninguém nem levantando nenhuma bandeira. Acho que é uma ótima profissão e que
serve sim de ajuda para um grande número de homens solitários, eu só as acho
caras e sem libido. Não sei se é bem essa palavra, talvez falte um pouco de
romantismo, ou um pouco de pecado. Digo isso, pois, um homem nunca é tão
sincero como quando está com uma puta. Ali ninguém mente. Num puteiro existem
menos mentiras e falsidade do que em qualquer igreja. Caem as máscaras e todos
são sinceros quanto seus sentimentos. É interesse e pronto! De ambas as partes.
Do consumidor ao prestador de serviço.
O homem, ao conquistar
qualquer mulher, ao conversar com qualquer mulher esconde sua natureza de Baco
e veste a armadura de príncipe de contos de fadas e em sua mente ele é o melhor
de todos os amantes. Conquistariam até a irmã com todo o charme que tentam exalar.
Nos puteiros o homem não fala, não pensa, portanto não mente. Quem fala é o
cartão de crédito. Mente só no vencimento da fatura escondendo dos olhos
acusadores de esposas e etc.
Quando digo que é o
único lugar que o homem não mente, acredite, homem mente em qualquer lugar, até
para ele mesmo. Toma banho e mente para si que é cantor. Só não mente para a
puta. Não precisa. Homem mente até para outros homens. Na verdade, não há lugar
do qual o homem mente mais do que numa roda de amigos. Pode reparar, um querendo
ser mais macho alfa que o outro e nesta batalha de hormônios todos são
mentirosos. As mulheres acham que numa roda de homens o assunto se resume à
mulheres, o que não deixa de ser verdade, entre futebol e bebidas as mulheres
sempre vencem, mas quando falam de mulheres o intuito são os homens e sua virilidade.
O melhor, o mais fodão, o comedor. Com a puta não tem isso, não tem conquista,
não tem charme, não se gasta charme com puta, exceto se você não tiver
dinheiro, mas aí é melhor ficar em casa. Puta não é ônibus que você pode entrar
pela porta de trás sem pagar, pelo contrário, por trás é ainda mais caro.
A puta é a religião, é
o padre do homem. Ali todos são confessos, todos são verdadeiramente homens e
pronto. Não tem porém. Veste-se com a camisinha e desnuda-se de personagens.
Uma vez fui para o
quarto com uma garota de programa, não fiz exatamente nada, invariavelmente
nada. Claro! Não posso transar com alguém sem tocar os lábios, sem me dar o
luxo da conquista. Vaidade, eu sei. Vaidade que me cobra o preço. Sou um
Narciso que não me permito ereções fabricadas. Conversamos a noite toda e digo:
foi uma das melhores conversas que já tive, pois não havia mentiras, nem de
minha parte nem dela. Ali ninguém queria conquistar ninguém, só queríamos
acabar a noite bebendo e com a sensação de dever cumprido. Mais um dia numa
vida sem Destino. Nem meu, nem de ninguém.
Bento.
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