sábado, 31 de agosto de 2013

A MERDA JÁ TINHA ODOR DE BOSTA ANTES DE VOCÊ, DEVERÁ CONTINUAR ASSIM MESMO DEPOIS

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Então estava eu torcendo uma garrafa de vodca. Eu tinha prometido não beber mais vodca durante um bom tempo.
Tenho o péssimo hábito de beber vodca, fazer uma porção de merda e não lembrar-me de nada depois.
Perdi três sábados de minha vida por causa da vodca. Quando digo que perdi é porque não me lembro. Ou seja, durante o último mês minhas semanas tiveram apenas seis dias, pois os sábados são como se não existissem, afinal eu não lembro.

Cheguei a uma conclusão de que nesses meus 25 ou 26 anos - não me lembro ao certo qual é minha idade - devo ter perdido uns seis meses ou um ano por falta de memória. Isso conta quando falamos sobre nossa idade? Contamos só os dias que lembramos? Bem, em todo caso, são quase 365 dias que só conheço pela ótica dos outros. Que contam nossas mazelas no dia seguinte ao porre. Sem memória. A minha dúvida é a de que se não lembramos nós envelhecemos? Ou seria como um guarda-roupa de Nárnia? Quem saberá responder?

De qualquer forma eu tinha aposentado as garrafas de vodca até jogar tudo para o alto e desistir deste teatro. Então reduzi meu estoque e decidi esquecer até não lembrar mais dos últimos seis ou oito meses que se passaram. Desde o batom vermelho, o primeiro beijo e o jeans rasgado até o basta ressentido e repentino. O fato é que tive uma visão de outro ângulo.
Deitei-me no chão gelado, nu, olhando as nuvens, com o copo de vodca sobre meu peito subindo e descendo devido a respiração. Ahh respiração. Tão monótono como os dias que ficava esperando por um "bom dia", "boa noite" ou elogio pelo meu talento de falar sobre você. Tão eu, tão você.

Quero exemplificar o efeito etílico dos 38 por cento de grau alcoólico de uma garrafa de um litro de vodca. Num fim de semana houve uma tentativa frustrada de roubar-me. Acabei com um olho roxo, uma costela dolorida e minha carteira ainda em meu bolso. Roube-me o tempo, jamais meu dinheiro. Roube-me carteira, jamais a lembrança de uma recepção por acaso, com um vestido estonteante e uma história para contar, juntos.

Noutro sábado perdido despertei de um sono longo sentado na privada do banheiro. Uma noite toda de sono dormindo no banheiro. Eu já havia repousado em vários lugares. Calçadas, caçambas de caminhões, bancos de praça, casas de estranhos, camas de estranhas, jamais no banheiro. Haverá uma primeira vez para tudo. Justo! Brigas, merdas, bostas e coisas que causam-me ressaca moral. Ok, quando você quer ser um bêbado como eu tem de estar pronto para as consequências. Logo, numa ótica diferente com o copo de vodca apoiado em meu peito subindo e descendo devido minha respiração, estou de bem com a Rússia novamente. Não por nada, mais por "foda-se tudo", voltei ao casulo de outrora, quarentena maldita dos velhos tempos para sair limpo e intransigente como sempre. Singular como minha história. Com (co) lapsos de decisões infernais. Com a ousadia de saber me por em meu lugar de ausente e canastrão.
A merda já tinha odor de merda antes de você, deverá continuar assim mesmo depois.



Bento.

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