sexta-feira, 30 de março de 2012

PRAZER, MEU NOME É BUNDA

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Quando eu falei sobre bunda no conto "Valorizemos as Nádegas Que Temos Em Casa" talvez tenha passado a impressão errada.
Talvez tenha dado a entender de que eu, como todo brasileiro, seja um aficionado por bundas.
Ninguém esconde isso. As crianças nascem mamando nos seios mas crescem admirando bundas.
Os velhos tropeçam em suas muletas nas ruas olhando para as bundas das jovens garotas que desfilam nas calçadas do verão de minissaias e microvestidos.
Vejam os programas de auditório cheios de bundas flutuantes dançando conforme a música e as câmeras com seus close-up para não perder nenhum movimento.
O carnaval só existe pela bunda das mulatas.
A calça legging só existe por causa das bundas e o homem, ora o homem. O homem como conhecemos hoje só existe por causa da bunda.

Eu tinha um amigo -- e digo tinha, pois perdemos contato-- que jogava pôquer na praça Sílvio Romero, toda tarde eu, ele e mais outros amigos passávamos as tardes jogando, apostando e olhando para as bundas passantes. Esse meu amigo costumava dizer "homem só atura a mulher por causa da bunda" e de princípio eu não entendi o que ele queria dizer, afinal, a mulher também não existe sem a bunda.
Então ele me explicou que era exatamente isso, "se o homem pudesse separar a bunda da mulher o homem se casaria com a bunda e não com a mulher". Pensem no constrangimento de apresentar uma bunda aos amigos, pensem no problema que seria em chamar a bunda para o almoço de domingo com os pais.

Eu lembrei desse meu amigo para falar de uma colega de trabalho que claro, é mais bunda que colega. Não me entendam mal, não quero aqui dizer que essa tal colega se resume somente à nádegas. Não, ela também tinha uma voz irritante e um rosto que na verdade não trazia sorriso nem ao mais míope, ou ao mais virgem dos homens. Sendo assim, o que vale ser exaltado quando se trata da tal colega de trabalho é somente a bunda. Mesmo.

Olhando assim, superficialmente, para não dizer que eu passo mais que meia hora olhando para aquela bunda, passei a acreditar que era uma bunda obesa. Uma bunda gorda. Não, a moça não é gorda, nem de longe. A moça tem um corpo de brasileira de praia, de academia, coisa de bailarina de programa de auditório, um pouco menos um pouco mais, mesmo assim, um bom corpo, para quem gosta de carne... Mas mesmo para um homem estranho como eu, que prefere ossos e seios, ao invés de bunda e carne, mesmo assim, chama atenção. Também pudera, é uma bunda de um colesterol nas alturas, uma bunda de bandejão, é tão somente a bunda roliça de perturbar os olhos dos cegos. Mas não é só uma bunda gorda e obesa como eu disse, é uma bunda viva.
Talvez a bunda seja a moça, não a moça seja a bunda.

Éramos eu e a bunda nos encarando e eu perdi naquela batalha. "Mexa com alguém do seu tamanho!" eu disse. Não disse, mas não faltou vontade. A bunda, no meu preconceito irremediável, deveria ter o nome de Alaor, pois acho que todo gordo deve-se chamar Alaor, assim como todo Valdir deve ter bigode, mas em minha cabeça, chamar aquela bunda de Alaor não seria justo, nem com a bunda, nem com o Alaor. Muito menos para mim que ficaria broxado com a comparação.

Fico eu pensando para quem são direcionados os "bom dia" quando ela chega ao trabalho, se para a bunda ou para moça. A bunda é de uma personalidade que deseja sempre ser vista pelas costas, sem abalo, e nós fazemos sem consciência. E sem pesar na consciência.

Dito isso me peguei pensando, o que seria do homem sem a bunda? Eu particularmente, se tiver que optar, ainda prefiro seios.



Bento.

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sexta-feira, 23 de março de 2012

QUEM NÃO FALA SOZINHO É O PIOR DOS SOLITÁRIOS

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Sempre digo que tenho imã para malucos, loucos, débil mentais, retardados, desafortunados, doidos varridos, leprosos, petistas, apolíticos, amaldiçoados, delinquentes, crentes, bêbados, depressivos e bêbados depressivos. O que é bem pior.

Minha mãe sempre disse para me misturar com pessoas iguais ou melhor que eu e eu levo isso comigo até hoje.

Dizem que nós atraímos exatamente àquilo que transmitimos e eu jamais vou discordar.

Por isso mantenho a promessa de um dia ter um pequeno apartamento no centro de São Paulo. O centro é o lugar que existe o maior número de malucos por metro quadrado do mundo todo. É um eterno tributo ao Raul Seixismo e como me vejo no maluco beleza e em sua dedicação de aprender a maluquice da vida.

Gosto dos malucos, pois não dependem de nada no caminho da felicidade. Sempre digo que quem não fala sozinho é o pior dos solitários. E o maluco é o maior dos tagarelas.
Fico pensando na excentricidade e na falta de limites do doido e chego a conclusão de que é isso que o mundo pede de você todo o tempo. Viva sem limites e seja original. (já vejo brotando a semente louca dentro de alguns coraçãozinhos ao ler isso) "eu também sou maluco, ora, veja" estão dizendo alguns. Outros devem estar pensando "eu também quero ser maluco, como eu faço?" e ao invés de buscar na internet eu lhes adianto o resumo da resposta: VIVA. Busque a vida e pare de tentar sobreviver.

Apesar de excêntrico, o maluco, como uma flor, não deixa notar-se quando morre. Ou você acha que os loucos do centro da cidade vivem para sempre? Morre e nem se vê, nem se fala. Não atrapalha o ir e vir da cidade que não para. Com exceção, em alguns casos, quando são forçados a morrer.

Estou lembrando agora um catador de papel que andava pelo bairro na minha infância. Ninguém sabia o nome dele, mas nós o apelidamos de "Verdade" e explico. Verdade era um negro, baixo, e usava um boné de eleição, não me lembro se de prefeito ou vereador, mas era um boné de eleição. Vermelho era o boné.
Verdade tinha uma carroça, dessas de pegar papel e bagulhos e sempre parava em frente ao mesmo poste que contava com o nome da praça e fazia o mesmo gesto. Tirava o boné como faziam os mais antigos na hora do cumprimento e ficava a conversar com o poste. O curioso é que ele mexia os lábios, mas não conseguíamos ouvir o que dizia, a única coisa audível era o "É verdade, é verdade...".
A praça tinha o nome de Platão, e ali ficava Verdade conversando talvez com o próprio e ouvindo os conselhos do grande filósofo. Em busca da sua própria verdade.

Sem me estender demais sobre o Verdade, digo que ele, um dia parou de passar pela velha praça. De repente, alguém perguntou, não sei se um garoto, ou a dona do bar, talvez o funileiro ou um qualquer, alguém notou e perguntou:- Cadê o Verdade? Sumiu.
Por isso digo que o maluco só se deixa notar quando quer, que é
quase nunca.

O mundo, tenho por mim que foi feito pelos doidos, para os doidos. Veja Adão, era louco porque amava. Mesmo depois de Eva ter trocado o paraíso por uma simples maçã continuou a amá-la.

O débil grita quando tem de falar baixo e sussurra quando tem de gritar, afinal, quem disse que tem de ser ao contrário?



Bento.


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sábado, 17 de março de 2012

NOITES DE TARANTINO

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Veja as grandes nuvens como tomam o céu para si, imponentes, soberanas, como se fossem donas de todo o mundo. E quem poderá me provar que não são?

Eu tenho uma nuvem que assola todo o meu campo de visão. Acima da minha cabeça ela deixa meu céu particular obscuro sempre que "me presenteia" com sua presença e assim acaba com meu dia de comercial de cerveja onde o verão e os sorrisos são eternos para transformá-lo em noite de filme de terror. Noites intermináveis de Tarantino. E essa nuvem tem nome, endereço, mãe, pai e noivo.

Tenho um amigo, o Rogério - se não falei do Rogério ainda peço desculpas para ele e vocês leitores, falarei mais em frente. Por hora basta saber que ele é um grande amigo, dos poucos que tenho com o título de "grande amigo"- voltando ao foco, Rogério tinha uma forma peculiar de tratar as pessoas e tinha um insulto tão genial que só poderia vir de um impaciente como ele. Sempre que sua raiva tomava o limite da cabeça ele soltava: - Você é um idiota mental!

Vou repetir para vocês pegaram o efeito e a sonoridade da frase. Idiota mental. Imagino que devem estar se perguntando "mas o que exatamente quer dizer essa merda?" digo isso, pois foi exatamente o que eu pensei quando ouvi pela primeira vez. Passei horas e horas dos meus dias tentando decifrar o que significava idiota mental, em nossas conversas no bar, ou nas calçadas tocando violão e bebendo vinho eu ouvia atentamente o que Rogério dizia na esperança de que ele deixasse escapar a resposta em algum momento, mas não tive sucesso. Até que eu cansei de ficar curioso e resolvi com o dedo em riste perguntar:- mas afinal, o que quer dizer essa merda? Lembro-me de ter perguntado exatamente assim "mas afinal, o que realmente quer dizer essa merda?".

Vejam vocês que eu corri dois riscos gigantescos, o primeiro de ficar desapontado com a resposta. O segundo foi de despertar a fúria num homem de dois metros de altura - na verdade ele tem mais, ou menos- colocando meu dedo curto em riste e lhe perguntando:- mas o que significa essa merda?

Não lembro se foi exatamente assim que perguntei, talvez não tivesse tido dedo em riste, talvez tenha sido numa conversa amena, talvez eu nem tenha perguntado. (Não, perguntei. Lembro que perguntei) mas não lembro da resposta, então vou falar da minha teoria sobre o idiota mental. Penso que todos sabem o que é um idiota, afinal, idiota é idiota em qualquer lugar e idioma, mas a adição do "mental" ao adjetivo é como se retirasse a cura do doente da idiotice. Creio que idiota tenha cura, mas não o idiota mental. O idiota mental está fadado a ser um grandessíssimo idiota, sem vacina. Rogério poderia ter dito naquela ocasião "você é um idiota sem vacina" mas aí não teria a assinatura dele e nós não estaríamos falando sobre isso agora. O fato é que idiota mental é bem mais marcante e verdadeiro.

Eis então onde eu queria chegar, sem mais delongas, a "minha nuvem", sempre que me deu a "honra" de sua presença me deixou idiota mental. Um idiota mental numa noite de Tarantino.


Bento.

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quinta-feira, 15 de março de 2012

LOIRICE IMPLICANTE, MAS ABSURDAMENTE DELICIOSA

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Eu descobri que existem bocas e palavras tão doces que mesmo um nome que eu não gosto, nome esse que me causaria revertério, esse nome em tal boca, com tal doçura, até mesmo esse nome, pode me trazer alegria.

Eu descobri em algumas oportunidades que a tentação é tão forte que ficamos reféns da doçura e que talvez saibamos que estão disfarçadas de carinho amigo, mas é a mais pura tentação de posse.

O fato é que desejamos ter para nós aquilo que já tem nome e sobrenome de um outro alguém, mas na verdade, quem somos para poder dizer que existe um dono de nossos desejos e atitudes?

Na verdade seríamos eu e alguém que talvez pudéssemos dar muito certo num outro momento, numa outra situação ou outra vida, a verdade é tão mais que isso... Mas o que é a verdade senão aquilo que sentimos verdadeiramente de momento? Um momento que pode durar instantes, dias ou meses. Convenhamos, o tempo que dura é o de menos importante, pois o que vai nos levar aos sorrisos largos de orelha é tão só a intensidade do carinho, do afeto e da união de discordar mesmo que seja de brincadeira.

Não, nós não precisamos partilhar da mesma opinião, afinal o que temos de mais importante não existe desacordo: aconteceu porque era assim que tinha de ser. Sem pressão, sem clichê.
Seduzíamos um ao outro sem mesmo nos dar conta e eram os olhos que falavam por nós.

Curioso é saber que estamos dispostos a passar por cima de regras que juramos mantê-las por toda uma vida pensando assim, agir certo, mas certo ou errado quando presente a vontade é só um detalhe. E se regras foram feitas para serem quebradas então que as quebremos por um motivo tão belo quanto a boca e a meiguice que nos fazem gostar até do nome que um dia abominamos.

Claro que tem também aquela doçura provocativa, de uma loirice implicante e uma solidão disfarçada de relacionamento que não nos deixa escolha senão pegar no colo e tomar para si.

E não se deixe enganar por minha cara amarrada de cicatrizes de outrora, isso é mais personagem de ficção numa tentativa infundada e inconsciente de parecer que o tempo me deixou mais forte para futuras surpresas, que só enganam os leigos. Há mais inconsciência que verdade nisso tudo, não me sobram dúvidas.

Falando ainda em tempo, ele que tornara-se meu inimigo mortal em outras vidas, pode e deve, servir-te de amigo, se souber aproveitá-lo e também de sua companhia.
Enquanto eu, sou um impaciente desvairado que deixo o desejo, por vezes, soprar por cima de meus ombros: deixo claro que quero tudo para mim e pronto. Da barriga aos arrepios...


Bento.

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sábado, 10 de março de 2012

ANALFABETISMO FUNCIONAL

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Eu já fui cafajeste. Sei a cartilha toda de cor e salteado, posso me dar ao luxo de dizer até que contribuí como autor de alguns métodos do passo a passo. Mas como toda criança que brinca de ciranda abandona a brincadeira depois que cresce, eu cresci.

Eu também já fui o namorado fiel, daqueles que se entrega ao amor e ao tentar acertar acaba errando, ao tentar mostrar todo seu sentimento acaba enciumado além da conta e ao tentar planejar seu futuro ao lado de quem ama acaba esquecendo de regar o presente.

Aposto que todos acreditaram na primeira parte da confissão, na segunda a grande maioria torceu os lábios, viraram os olhos e duvidaram da veracidade do autor. Evidente que, como digo em O Pessimismo é Uma Arte a tragédia shakespeariana é tão mais fácil de empregar o credo.

Eu nunca escrevo por escrever, acredito na minha arte e acredito que nas entrelinhas alguém, mesmo que poucos, se farão de entendido. No entanto em alguns casos sou tão claro que nem é preciso interpretação, está tudo lá. Assim sendo, me pego por vezes desacreditando da boa intenção dessa falta de compreensão.

Como prometi em “Isso Não é Um Pedido de Desculpas” defender-me de qualquer acusação não faria mais parte de minhas ações, mesmo assim decidi quebrar tal juramento uma só vez porque acredito que como o rádio, a audiência de meus textos podem ser rotativas e alguém pode ter ficado pelo caminho.
Tem uma coisa que é mais forte que eu, quase um vício, ou uma maldição. Não gosto de mentiras e por mais que eu quisesse em alguns casos, não consigo mentir. Pensei ter deixado isso muito claro em “A Verdade Virou Pecado” e Péssimo Mentiroso” mesmo assim teimam em sugerir que eu posso não estar sendo de todo sincero quando demonstro algumas preferências e desejos, como o fato de querer unir-me a alguém.

Está certo que meu passado me condena, que talvez me fora dado o rosto do pecador ao invés da face do justo, mas isso é entre eu e O Criador das mazelas do mundo. Também não vou aqui armar-me do egocentrismo acusando o universo de me julgar, sempre haverá alguém para sentar no rabo e apontar o dedo para os outros e é assim desde que o mundo é
mundo. Todos sofrem com isso. Eu mesmo, por mais que tente, também o faço. E erro no julgamento como podem ver em "Com Quantos Erros Se Faz Um Tonto?"

Mesmo deixando claro em “Simplificando o Possível” entre tantos outros textos que não sou fã de carnaval fora de época, as pessoas continuam desconfiando do longo período que me mantenho no convívio singular. Adianto que isso provavelmente incomoda-me bem menos agora, pois degusto das conquistas pessoais que me são palpáveis, deixei a receita desse bolo no Eu Sou Egoísta. Porém vou ter de concordar com algumas pessoas, por mais que Meu Amor Tira Férias”, podemos afirmar que depois de tanto tempo é fato que ele está desempregado.

Pois é isso, o problema é justamente este, na onipresença de minha sinceridade e senso de justiça, eu não poderei de maneira nenhuma iludir qualquer pobre alma e prometer-lhe uma relação se a semente do sentimento não brota no meu jardim.

Nesta situação me tornei mais Domenico do que Dom “Aqui jazDom, o Canário” e que na falta deste jardim a morbidez tem sido a essência da obra, mas sem jardim, sem borboletas e aí o que poderei prometer?

Enquanto isso, cabe-me somente levar em conta que Se Nada é TãoRuim Que Não Possa Piorar, Lute Para Manter Ruim Como Está”, entreter-me entre “Toca Discos” e evitando as armadilhas dos “Eu Gosto de Você”.

Ficou claro?


Bento.

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sexta-feira, 2 de março de 2012

ALGUMAS COISAS EU PREFERIA NÃO TER APRENDIDO

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Eu fui envelhecendo e ganhando algumas coisas e perdendo outras.
Ganhei cabelos brancos e defeitos novos, pois variar nos erros é até indicado, manter-se errando na mesmice é onde está o problema.

Ganhei experiência na sofreguidão e aprendi a reconhecer becos sem saída, pessoas confiáveis e amores eternos de uma só noite. Porém hoje, a possibilidade de surpreender-me é mais desejada que aquele embrulho abaixo da árvore de natal que eu passava horas bolando um plano para espiá-lo antes de ser entregue por meus primos vestidos de papai-noel.
Ser surpreendido mostra que até a mentira tem seu lado bom. E se até a mentira tem, o que você está fazendo privando o mundo de vislumbrar suas qualidades?

Aprendi que por mais eternos que pareçam nossos problemas sempre haverá alguém que tire proveito disso, até nós mesmos. Os problemas vem e vão, alguns vão outros não. E quem não tem problema nunca saberá como é bom desequilibrar-se em copos e mais copos de solidão e ainda assim acordar no dia seguinte sorrindo, pois a dor de cabeça chega, mas manda embora quilos de sentimentos que estava entalado em nossa garganta.

Aprendi que ser rico quando criança era a quantidade de brinquedos que havia para brincar.
Depois dos cabelos brancos aprendi que dinheiro é a quantidade de pessoas que você consegue enganar, contudo, as aparências enganam, mas nunca terão tanto sucesso quanto sua vontade de ser enganado.

Depois de tanto tempo perdi a inocência e imagino coisas horríveis de todas as pessoas, mesmo àquelas que nunca me deram motivos. Não que eu seja desconfiado, é que o absurdo da calamidade mental sufoca até mesmo os mais confiantes na humanidade. Pois somos o espelho da sociedade em que vivemos e vice versa.

Perdi também o hábito de olhar para o céu, afinal já conheço cada estrela, já dei nomes e apelidos. E isso nunca trouxera nada de bom.
Juntei os pontos e a única imagem que se formou foram meus erros que já estou cansado de conhecer. Pois é sempre mais difícil de encontrar pessoas que desvendem suas qualidades, mas sempre haverá quem te faça lembrar de seus defeitos. Voluntários nunca faltarão.

Com o tempo ganhei alguns talentos e em alguns casos fiz questão de esfregá-los na cara de quem me desafiasse. O que me fez conhecer a arrogância e a síndrome de inferioridade que possui meu corpo.

Perdi a essência de acreditar no inacreditável, de ter certeza que dias melhores viriam e que meus brinquedos seriam meus amigos para todo sempre.
Deixei também de acreditar no para todo sempre e ganhei uma expectativa de vida curtíssima.

Perdi a vivacidade e a ansiedade característica da juventude e agora tenho a pressa dos adultos. Corro, corro e não saio do lugar e o tempo é meu inimigo mais calunioso e invencível.
“Quando criança sonhava com o que seria quando crescesse, agora que cresci sonho em poder voltar a ser criança” e fazer tudo de novo. Com paladares novos.

Perdi o credo na cegonha e hoje sei que a TV não é uma caixa mágica. Ganhei a literalidade da dor e aprendi que justificar todo o meu (mau) humor nestas dores do mundo é mais que natural.

E aprendi depois de anos que afago de amante é como remédio de disfunção erétil, o prazer será sempre por empréstimo.

E se Sócrates disse que não sabia nada, eu digo que algumas coisas eu preferia não ter aprendido.


Bento.

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