Indica-se ler o capítulo anterior "GIULIARD BORSANDI II"
Eis que acordo pela
manhã com a campainha estourado meus tímpanos que mais parecia uma cabra sendo
estuprada por um caipira. Por um breve momento achei que era um sonho,
infelizmente não era. Acordei assustado e percebi que a chuva tinha partido e
agora restava um sol de dar inveja a qualquer verão, apesar de estarmos no
outono, tanto que acordei ensopado como na noite passada, só que desta vez não
era por causa do banho de chuva, era suor causado pelo sol que batia na minha
cara. E a campainha disparando o berro da cabra.
Eu tenho um 38. colado
com fita adesiva debaixo da escrivaninha por precaução que nunca fora usado,
contudo quando se é um delator, um cagueta como eu, as pessoas tendem a não ter
muita simpatia. Quando comprei o ferro do mané do Cabelo imaginei momentos como
esse que eu acordaria de surpresa e imediatamente ergueria a arma apontando-a
por todo o escritório como nos filmes da máfia, mas nunca tive esse cacoete de
policial. Só fui lembrar da arma quando já estava em pé com a mão na maçaneta
da porta.
Por falar em Cabelo,
eu molhava a mão dele sempre que entrava algum dinheiro para que ele me
avisasse quando estivesse subindo alguém para meu escritório, afinal o prédio
era bem antigo e não possuía nenhum sistema de segurança como câmeras e etc.
Tão antigo que não me surpreenderia se dissessem que Dom Pedro II tivesse usado
um dos apartamentos para trepar com alguma puta do império.
Cabelo não era bem um
funcionário do prédio, na verdade, não havia nenhum funcionário lá, ele era
mais um passador de drogas típico de um país de terceiro mundo, boné aba reta
da CBF, camisa polo listada e Nike no pé, fora as correntes douradas no pescoço
e nos braços que ele costumava balançar como aquele personagem de uma novela
antiga. Era garoto ainda, deveria ter feito dezoito recentemente e chamavam-no
de Cabelo pelo Black Power que escondia dentro do boné. O garoto usava a
portaria como ponto, boca, chamem como quiser.
Porém, fazia tempo que
não entrava nenhum dinheiro e consequentemente havia tempo que Cabelo não
recebia nem uma moeda.
Finalmente abri a
porta e quase coloquei para fora todo o café que ainda não tinha tomado. Era
Nelia que disparava a campainha do meu escritório como uma desesperada. E ela
estava linda, definitivamente linda. Abri a porta e ela me recepcionou com seu
sorriso branquíssimo e dentes perfeitos de menina rica que vai ao dentista uma
vez por semana. Ao contrário dos meus dentes amarelos de fumante e tortos de
quem só foi saber o que era dentista aos dezoito anos e foi no primeiro ano de
faculdade, quando houve uma campanha gratuita feitas pelos estudantes de
odontologia.
O fato é que aquele
sorriso, aquele olhar de superioridade (ela fora a única que conseguiu me
colocar na linha), aquele rosto perfeito e branco como o sorriso, me deixava de
perna mole, me tirava qualquer problema da cabeça e eu ia do céu ao inferno em
questão de segundos. Ainda havia o decote, eu era louco por aquele decote.
Nunca vi seios tão perfeitos apontando para minha cara, seios nem grandes nem
pequenos, mas proporcionais para seu corpo magro, os mamilos rosados como
chiclete, Nelia era a mulher da minha vida do dedo do pé até seus cabelos lisos
e negros.
Eu já estava de pau
duro pensando naqueles peitos, muito devido ao fato de ter acabado de acordar.
Incrível como acordo com um tesão de garoto de quinze anos, quando Nelia
interrompeu minha viagem à terra dos seios. "Você não vai me convidar para entrar?" ela disse com sua voz
de anos de aulas de canto.
Não sei, depende do
que você veio fazer aqui - eu respondi fingindo não estar nem aí para a visita
dela. Só que na verdade eu desejava vê-la a cada minuto do meu dia. Em cada
corpo de mulher que minha língua passeava eu imaginava ser o dela, imaginava
sua língua em cada boca que eu beijava e adicionava mentalmente as pintas do
corpo de Nelia, cada uma, nos corpos de todas as minhas amantes.
Então a mulher dos
meus sonhos me respondeu com o mesmo sorriso dizendo "estava com saudade" e antes que eu pudesse por em prática toda
a minha estupidez, toda minha aspereza, ela pôs a mão em minha nuca e meteu a
sua língua macia na minha boca. Agora meu pau não estava só duro, latejava
dentro da minha calça como um cão que late para o carteiro.
***
Foi quando eu ouvi a
campainha novamente e agora eu estava de volta na cadeira, todo ensopado de
suor com o sol batendo na minha cara. Era um sonho, só um sonho ou, mais um
sonho. Eu já deveria saber que se tratava de mais um sonho que tinha com Nelia,
pois eles eram diários, não importava quantas vezes eu dormisse, todas as vezes
sonhava com Nelia. Como eu sou idiota.
Levantei-me para abrir
a porta e percebi que a única coisa real no sonho era o pau duro. Arrumei o “menino”
dentro da calça de forma que ninguém percebesse o volume e até que deu certo.
Lembrei da arma, coloquei o 38. na parte de trás da calça e fui ver quem dava
dedadas na cabra que eu chamava de campainha.
Era um amigo de muito
tempo atrás...
Bento.
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