Odeio começar escrever
de segunda-feira porque sempre me faz lembrar que deixei algo passar no fim de
semana.
Faz algum tempo eu
planejo tirar um bom fim de semana inteiro, daqueles com chuva, para tomar um
trago e passar o dia escrevendo. Faz tempo e nunca cumpro.
Nunca cumpro o que
planejo porque sempre tem uma festa, um bar, aí estou sempre curando-me de uma
ressaca e só tenho vontade de dormir e ver filmes que só alimentam meu vício em
entretenimento.
Uma vez falei das
qualidades psíquicas da ressaca, parei nisso, não queria falar dos efeitos
físicos dela, romantizei até o último, mas agora vou deixar claro: Ressaca é
uma merda. Uma bosta. Tente trabalhar de ressaca e verá que é ridículo, seu
cérebro não funciona, seus membros tremem e seus olhos suplicam para se
fecharem e mandam você dormir. VAI
DORMIR. Quero folga! Eles dizem. Escrever de ressaca é excelente, trabalhar
não.
Bem, eu tenho que
trabalhar, não ganho um puto escrevendo. Não paga nem os cigarros, logo é
melhor trabalhar para ter o que beber e o que escrever.
Quando não é a ressaca
são os trabalhos e provas da faculdade de jornalismo que me consomem as forças
e o tempo. Sendo assim, continuo sem cumprir minha própria promessa de reservar
um fim de semana para tomar uns tragos, fumar e escrever.
Eu não consigo cumprir
minhas próprias promessas. Que ponto eu cheguei?
Esse fim de semana não
bebi, tomei uma ou duas cervejas, mas isso é nulo. Meu fígado bebe duas ou
três cervejas e acha que é xarope para gripe. Só vai se dá conta que está bebendo
quando passo de uma dúzia, aí ele grita: FESTA!
Eu gostaria de ser um
fígado, sempre bêbado, armazena álcool para a época de estiagem, sábio fígado.
Eu não. Não consigo guardar uma garrafa de nada alcoólico. Se estiver à vista
eu bebo e escrevo, escrevo e bebo. E por aí segue.
Esse fim de semana não
bebi. Sábado eu fui ao shopping e lembrei do porque não gosto de shopping.
Um monte de velhos,
casais e casais de velhos andando como se não houvesse um amanhã. Andam e se
esquecem das horas e dos dias. Nunca se perguntou porquê shoppings não tem
relógio? Não querem que você saiba as horas.
Eu tenho pressa, ando
como se estivesse fugindo de alguma coisa. Da morte talvez, ando como se fosse
semicorrer. E aquela lentidão dos velhos, dos casais e dos casais de velhos me
mata.
Quando namorava eu ia
ao shopping. Achava um saco, mas ia. Mulher no shopping é quase como velho no
médico. Só sai de lá quando acha alguma coisa que serve. E isso leva tempo.
Sai de casa no sábado
e já pensava quando voltaria. Era um sábado de frio, odeio o frio e quero
dormir e ver filmes engraçados, ou de ação. Ou seriados engraçados de ação.
Queria voltar para a cama e colocar minha calça de moletom no momento em que
saí de casa, mas tive que ir ao shopping comprar um presente para o aniversário
da minha irmã.
Já o domingo eu dormi.
Dormi até os ossos doerem. Foi um bom domingo apesar do resultado no futebol,
passei quase o domingo inteiro falando com uma garota. Exceto quando estava
dormindo, vendo o jogo ou comendo, falava com a garota. Foi uma conversa legal,
divertida. Comecei pisando em ovos como todo homem faz quando fala com uma
garota absurdamente linda pela primeira vez.
Pisamos em ovos com
medo de falarmos alguma merda, pois homem é o campeão em falar merda quando
conversa com uma garota absurdamente linda pela primeira vez. E eu não sou
diferente. Algumas raras exceções acertamos na dose. Espero ter sido uma dessas
vezes.
Então ficamos eu, meu
moletom e a garota conversando. Meu irmão me trazia cervejas e eu não queria, mas
não negava. Também, cinco ou seis cervejas não fariam mal algum. Tanto faz.
E assim foi o domingo,
me despedi da garota e fui dormir.
Fim de semana que vem
eu vou reservar para tomar uns tragos, fumar e escrever. Quem sabe falar mais com a garota...
Bento.
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Um comentário:
Oi Bentinho,
Boa noite e boa semana! Como a minha segunda é só ritmo, sempre começo a trabalhar no domingo. Logo, nem um trago, cigarro ou qualquer delírio maior.
Maravilha de texto!
Beijos.
Lu
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