domingo, 22 de abril de 2012

GIULIARD BORSANDI (CÁPITULO II)

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Estou pendurado numa janela de um hotel barato no centro de São Paulo, num beco cheio de lixo, ratos, gatos e mendigos.

Eu estou disfarçado de mendigo para passar despercebido, mas também, com meu salário e minhas roupas, nem precisei fazer muito esforço.

As únicas coisas que me diferenciam de um morador de rua são o cheiro e a máquina fotográfica no pescoço.
Eu sou investigador particular e me chamo Giuliard Borsandi e fui pago para tirar algumas fotos da esposa de um pastor, que ele desconfia estar trepando com um tal de obreiro, seja lá o que for isso.

Veja que nem em mulher de pastor pode-se confiar mais. O mundo acabou e esqueceram de jogar terra em cima.
Mas a tal serva de Deus é esperta, escolhe sempre hotéis verticais, sempre acima do quarto andar, com janelas e cortinas fechadas. Desta vez ela só esqueceu de conferir a altura do galpão abandonado ao lado. Foi difícil escalar, mas aqui estou.
Arriscando minha vida por uma merreca que mal paga os cigarros do mês. E tudo isso no anonimato, digo, para quem tinha tudo para se tornar um jornalista investigativo famoso e digno de prêmio, eu me perdi em algum lugar.

Sei que já contei minha história para vocês (Apresentando: Giuliard Borsandi. Mini série), no entanto para quem não sabe, eu sou um ex-jornalista que espanquei o cara que roubou minha promoção e minha noiva. Na verdade não espanquei, foram três socos bem dados que o fizeram falar fofo durante um bom tempo, mas não chegou a ser espancamento. De qualquer forma, tanto faz, mas deve ser verdade, afinal dizem que tudo que está no jornal é verdade.

Então já passou da uma da manhã e essa vaca não me dá uma brecha para uma foto. Eu poderia dizer ao pastor que a mulher é uma santa e acabar com esse sofrimento, porém quero preservar um mínimo de vergonha na porra dessa minha cara. E com meu passado de ter sido trocado por um amolfadinha punheteiro comedor de puta - tomara que pegue uma sífilis, é o que desejo para Nelia - é minha obrigação defender os fracos e oprimidos por mulheres vadias. Longe de mim querer ser um herói, não me entendam mal, eu sequer consigo pagar minhas contas e fazer a barba.

Meu pau não vê duas pernas abertas vai fazer um mês e eu nem sei o nome da última fulana que comi em cima da escrivaninha do escritório. Só sei que ela era boa, muito boa. Ela foi me procurar para pegar o marido rico trepando com a empregada, parecia que eles tinham um contrato de casamento que no caso de adultério o traído ficaria com tudo.
Vagina cara dessa empregadinha. Também, até eu gostaria de pegá-la por trás como fez o tal marido rico. Dava dó de deixar aquela moreninha sem uma bela chupada.
Só que homem é burro pra cacete, se a carne é fraca amigo, não assine contratos. Esse é um lema que eu vou levar para minha vida.

Magali! Lembrei o nome da madame que me contratou, não era de se jogar fora, é bem verdade que não era bonita, o dinheiro ajudava muito.
Cheirosa, tão cheirosa que toda vez que ela entrava no meu escritório seu perfume ficava lá por dias. Na verdade chegava a me irritar aquele perfume, muito doce, não gosto de perfumes doces, porém com o tempo me acostumei. É bom sentir algo de feminino naquele cubículo nojento que chamo de escritório. Seis metros quadrados com uma janela, uma porta, uma mesa e um arquivo. E só.
Magali me tirou o atraso, mas agora já tava na hora de correr atrás do prejuízo de novo.

Bom, a crente do diabo fugiu novamente e eu fui para o escritório. Abri a garrafa de scotch tupiniquim e a primeira dose foi num gole só. Sentia frio com aquelas roupas molhadas devido a chuva de verão. Peguei uma trouxa de roupa seca que havia numa mala ao lado do arquivo, preparada exclusivamente para essas ocasiões, troquei-as e me joguei na cadeira e esticar as pernas sobre a mesa. Abri a gaveta onde guardo os destilados e servi mais uma dose, dessa vez dupla. A gaveta da escrivaninha que sempre emperra, precisou de um leve soco de baixo para cima para ela deslizar suavemente. Acendo um cigarro e dou um trago demorado, "dia difícil" penso em voz alta. Giro o dial do pequeno rádio de pilha e acho uma introdução de guitarras que agrada meus ouvidos e fico ali pensando se a mulher do pastor vai me passar para trás novamente na próxima emboscada. De qualquer forma, a adultera só sai para vadiar quando o pastor viaja, o que só vai acontecer na próxima sexta-feira, logo, terei quase uma semana para preparar um novo plano.

Acendo outro cigarro e fico olhando a chuva pela janela do escritório, vejo que algumas gotas passam pelo pedaço de papelão improvisado num quadrado que antes tinha um vidro que fora quebrado por uma pedra, "precisa de mais fita" pensei comigo.

Então peguei no sono. Estava cansado e não era só fisicamente.

Eis que acordo pela manhã com a campainha que mais parecia uma cabra sendo estuprada por um caipira.

Era uma amiga de muito tempo atrás...


Bento.

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