domingo, 22 de abril de 2012

PARECE CLICHÊ

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Parece clichê.
Sei que isso é um tiro no pé, um antisserviço contra minha própria escrita.
Começar um texto com a palavra "clichê" é isso. Um tiro pela culatra.
Digo isso, pois, ninguém gosta de clichês, na verdade, logo eu corro o risco de não ter um leitor sequer. Na verdade, todos gostamos de clichês, mas pensamos não gostar, dizemos a nós mesmos que não gostamos, mas gostamos. Músicas clichês, cantadas clichês, roupas clichês. Se perguntar, ninguém gosta de clichê.
Então, quando eu assumo logo na primeira linha do texto que trata-se de um clichê, as pessoas se assustam. Paciência.

Vamos então ao clichê em questão.
Tenho um conhecido, uma amizade recente eu quero dizer, que pode se tornar amigo ou não, o tempo vai dizer.
Esse conhecido chama-se Rubens. Este é um tipo Bon Vivant, vive a beber, fumar e fazer sexo com inúmeras garotas.

E logo as pessoas o rotulam de todos os nomes possíveis que caracterizam seus atos como canalha, cafajestes, galinha, só para citar os mais comuns.

Eu mesmo um dia desses falava ao Rubens: Reclamas do que Rubens? Todos por aqui o invejam pela vida que leva.

E Rubens me respondeu com seu sorriso de diabo que me fez entender. Primeiro vou falar do tal "sorriso de diabo". Existem sorrisos espontâneos, tem aquele sorriso de quando vemos uma criança acenando para nós, o sorriso amarelo quando somos pegos na arte. Sorriso do diabo é um sorriso que não emite felicidade, emite desespero. Emite solidão e desesperança.
Neste sorriso só sorri os dentes e a boca, os olhos não.

Claro que eu só fui perceber a diferença do seu sorriso quando Rubens me contou.
Contou que todos adoravam a vida que ele levava, menos ele. Todos queriam parte do que ele vivia, menos ele.
Rubens então com os olhos marejados dizia viver a procura de algo que ele, em algum momento, no meio do caminho esquecera o que era.

Ele continuou então sua história revelando a existência de um ex-amor. Ele deu esse nome, mas não sabia se era ex, ou se era amor. Então o amor se foi e ficaram as sobras. Sobras estas que ele tratou de tentar afogá-las com álcool sem sucesso. Tentou matá-las com sexo, muito sexo e não via méritos nisso.

Eu mesmo que fico sabendo das coisas sempre em penúltimo lugar, pois o último, dizem ser sempre o corno, eu mesmo já sabia de umas duas dúzias de amantes de Rubens.
Ele dizia saber menos que eu, não que não fossem verdadeiros os números, mas não queria lembrar.
Só o que ele sabia é que não conseguia amar ninguém, não gostava de ninguém.
Talvez nem dele mesmo.
E me mostrou a ironia quando disse que quem ele amava o odiava e quem o amava, ele desprezava.

Então eu via Rubens e sua multidão de amantes que ele mesmo gostaria de negá-las, de esquecê-las. Era um conquistador sem mérito, sem glória, ele dizia. Não fazia força, simplesmente acontecia, muitas vezes eram as garotas que ofereciam suas carícias e ele carente como todo homem largado aceitava mesmo sabendo que se arrependeria no momento seguinte.

Eu bebia meu conhaque, ele o dele, e pensava com meus botões o que poderia dizer para acabar com aquele desabafo incomum, digo, parecia-me muito triste o relato sim, sincero também, não duvidava nem por um momento de sua tristeza, mas eu também pensava naqueles que queriam ter todas as mulheres que Rubens tinha em seus braços. E não pensem vocês que a quantidade diminuía a beleza, eram todas lindas, cada uma com suas características, mas ainda assim, lindas.

Rubens que pareceu ler meus pensamentos, após passar todo o conhaque que havia no copo pela sua goela de uma vez só, me disse com um olhar suplicante: É uma maldição, Bento.

E ao ver sua suplica fiz o mesmo com meu conhaque. Apontei o dedo para ele: Rubão, faça só o que tens vontade! Só o que tens vontade...

Não sei por que o dedo em riste, talvez eu quis colocar a mesma dramaticidade na minha frase, assim como tinha feito Rubens na sua. Logo eu recebi a réplica: Mas e os domingos? O que eu faço com os domingos?


Bem, essa... Eu não soube responder.


Bento.



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