Parece clichê.
Sei que isso é um tiro
no pé, um antisserviço contra minha própria escrita.
Começar um texto com a
palavra "clichê" é isso. Um tiro pela culatra.
Digo isso, pois,
ninguém gosta de clichês, na verdade, logo eu corro o risco de não ter um
leitor sequer. Na verdade, todos gostamos de clichês, mas pensamos não gostar,
dizemos a nós mesmos que não gostamos, mas gostamos. Músicas clichês, cantadas
clichês, roupas clichês. Se perguntar, ninguém gosta de clichê.
Então, quando eu
assumo logo na primeira linha do texto que trata-se de um clichê, as pessoas se
assustam. Paciência.
Vamos então ao clichê
em questão.
Tenho um conhecido,
uma amizade recente eu quero dizer, que pode se tornar amigo ou não, o tempo
vai dizer.
Esse conhecido
chama-se Rubens. Este é um tipo Bon Vivant, vive a beber, fumar e fazer sexo
com inúmeras garotas.
E logo as pessoas o
rotulam de todos os nomes possíveis que caracterizam seus atos como canalha,
cafajestes, galinha, só para citar os mais comuns.
Eu mesmo um dia desses
falava ao Rubens: Reclamas do que Rubens? Todos por aqui o invejam pela vida
que leva.
E Rubens me respondeu
com seu sorriso de diabo que me fez entender. Primeiro vou falar do tal
"sorriso de diabo". Existem sorrisos espontâneos, tem aquele sorriso
de quando vemos uma criança acenando para nós, o sorriso amarelo quando somos
pegos na arte. Sorriso do diabo é um sorriso que não emite felicidade, emite
desespero. Emite solidão e desesperança.
Neste sorriso só sorri
os dentes e a boca, os olhos não.
Claro que eu só fui
perceber a diferença do seu sorriso quando Rubens me contou.
Contou que todos
adoravam a vida que ele levava, menos ele. Todos queriam parte do que ele
vivia, menos ele.
Rubens então com os
olhos marejados dizia viver a procura de algo que ele, em algum momento, no
meio do caminho esquecera o que era.
Ele continuou então
sua história revelando a existência de um ex-amor. Ele deu esse nome, mas não
sabia se era ex, ou se era amor. Então o amor se foi e ficaram as sobras.
Sobras estas que ele tratou de tentar afogá-las com álcool sem sucesso. Tentou
matá-las com sexo, muito sexo e não via méritos nisso.
Eu mesmo que fico
sabendo das coisas sempre em penúltimo lugar, pois o último, dizem ser sempre o
corno, eu mesmo já sabia de umas duas dúzias de amantes de Rubens.
Ele dizia saber menos
que eu, não que não fossem verdadeiros os números, mas não queria lembrar.
Só o que ele sabia é
que não conseguia amar ninguém, não gostava de ninguém.
Talvez nem dele mesmo.
E me mostrou a ironia
quando disse que quem ele amava o odiava e quem o amava, ele desprezava.
Então eu via Rubens e
sua multidão de amantes que ele mesmo gostaria de negá-las, de esquecê-las. Era
um conquistador sem mérito, sem glória, ele dizia. Não fazia força,
simplesmente acontecia, muitas vezes eram as garotas que ofereciam suas carícias
e ele carente como todo homem largado aceitava mesmo sabendo que se
arrependeria no momento seguinte.
Eu bebia meu conhaque,
ele o dele, e pensava com meus botões o que poderia dizer para acabar com
aquele desabafo incomum, digo, parecia-me muito triste o relato sim, sincero
também, não duvidava nem por um momento de sua tristeza, mas eu também pensava
naqueles que queriam ter todas as mulheres que Rubens tinha em seus braços. E
não pensem vocês que a quantidade diminuía a beleza, eram todas lindas, cada
uma com suas características, mas ainda assim, lindas.
Rubens que pareceu ler
meus pensamentos, após passar todo o conhaque que havia no copo pela sua goela
de uma vez só, me disse com um olhar suplicante: É uma maldição, Bento.
E ao ver sua suplica
fiz o mesmo com meu conhaque. Apontei o dedo para ele: Rubão, faça só o que tens vontade! Só o que tens vontade...
Não sei por que o dedo
em riste, talvez eu quis colocar a mesma dramaticidade na minha frase, assim
como tinha feito Rubens na sua. Logo eu recebi a réplica: Mas e os domingos? O que eu faço com os domingos?
Bem, essa... Eu não
soube responder.
Bento.
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