Eis que me disseram: mas você não tem sobrenome? Evidente que sim, eu respondi. Para quem não sabe, Bento é meu sobrenome, o meu nome é outro.
Mas aí a pergunta já tinha se espalhado e todos afirmavam: você não tem sobrenome. Isso foi de uma calúnia desmedida. Afinal não é porque meu sobrenome pode ser adotado também como nome que ele não pode ser outra coisa.
Ao insistirem que eu não teria um sobrenome pensei logo na tentativa de me tirar a identidade, dramático que sou imaginei como seria sem sobrenome e sem identidade.
Bento era meu avô por parte de mãe, logo ela é a Sra. Bento, e dos meus dois irmãos eu sou o único Bento representante.
Eu pensei em tentar uma crônica mais romântica, pensava numa outra pessoa antes de começar a falar sobre meu nome, mas a verdade é que é praticamente impossível falar de qualquer pessoa, qualquer outra coisa, sem adaptar ao meu egoísmo. Como costumo dizer, cada um tem uma verdade e é preciso que eu identifique a minha para que possa me encontrar na reflexão sobre meu cotidiano.
De qualquer maneira deixei a intenção de parecer romântico a quinze parágrafos atrás, não que seja uma segunda-feira insensível, de maneira nenhuma, só acredito que seja uma segunda para ser lúcido. Eu disse lúcido, não lúdico. Lúdico é outra coisa.
Eis então que eu penso na minha identidade e a molecagem vivida todas as tardes e sinto uma duplicidade de informações. Vejo minha rebeldia em minha frente, olhando em meus olhos e os seus são verdes. Eu gosto muito de verde, principalmente uvas verdes, porém, não cairei na tentação de fazer alusão dos olhos com uvas. Sei que me vejo naquele par de olhos e não é só reflexo, sou eu.
Me vejo em cada gesto obsceno pois eles são meus, seriam meus caso não fossem dirigidos para mim.
Vou aqui abrir um parênteses para dizer que alguns textos meus demoram mais que um dia para irem do início ao fim. Acontece isso pela falta de tempo e correria do dia-a-dia e como algumas coisas que digo são tão atuais que é inevitável acontecer reviravoltas após o início que modifica totalmente o final do texto. Não se preocupem, a obra não perde sua sinceridade por causa disso, só mudará o fato de haver algumas pessoas lamentando o desenrolar da história.
Pronto! Após este parêntese enorme, adianto "o homem mais infeliz do mundo é aquele que descobre que nem sempre vale tanto sacrifício por três segundos de prazer", aos que se fizerem de desentendidos recomendo uma maior compreensão do meu outro texto "Prazer, Meu Nome é Bunda" que deixa claro que numa relação que se prioriza a bunda e a carne eu darei sempre preferência aos osso e tetas.
Eu permito-me por vezes adestrar minha sinceridade na tentativa de evitar que confundam-na com rispidez, fato que acontece sempre, mas existem certas pessoas que tendem a confundir isso com ingenuidade. Olhe só, ingenuidade, logo de minha parte. Eu tenho muitos defeitos que não faço questão nenhuma de esconder, eu tenho qualidade que deixo escapar entre os dedos numa linha ou outra, mas é raro, para que não pareça egocêntrico. No entanto, ingenuidade não está, nem de longe, no meio de uma dessas coisas.
Se me perguntarem, é claro que vou dizer que não vale a pena deixar de externar qualquer coisa em si para agradar um outro alguém, porém não nego que sempre vai existir a tentação de fazê-lo, para que não assuste Fulanos ou Beltranos, chamo isso de "preparar o terreno", uma introdução para preparar os ouvidos para o que está por vir.
O fato é que confundiram este, que é o indiferente, com o ingênuo. Vale também lembrar, que qualquer impressão errada que eu possa, mesmo que inconscientemente ter transmitido pessoalmente, seria desmentida imediatamente por este meio de escrita, pois as linhas não mentem, as letras não omitem e os parágrafos são transparentes como água de bica.
E foi que ficamos assim, nessa relação de bunda, carne e sinceridade de uma via só (a minha) e eu preferindo ossos, tetas e a reciprocidade da intenção. Eu só reivindico o que posso lidar, da outra havia reclamações que eu pude suprir -- sem me gabar -- de olhos fechados, porém ter do que reclamar faz tanta parte de nosso cotidiano -- assim como o sol, a chuva, a enxaqueca -- que nunca nos acostumamos com a falta. Reclamar é mais fácil que se adaptar com algo novo, como o mendigo que ganha na loteria e não se acostuma com a água quente do banho.
Ainda sobre isso, eu já disse aqui que jamais me defenderia de qualquer acusação, o bom neste caso é que nem há motivos para isso, o que geralmente é incomum. Ah, mas nada é em vão, existiu uma certa visita que um dia eu esperei, quem acompanha o lamentar do autor deve também reconhecer como o apelido de uma certa princesa, que reclamava e reivindicava algumas coisas que eu pude colocar o antídoto em prática e acho que me saí bem, remediando o que eu achava irremediável.
Mas é bom deixar claro que não há motivos para maiores preocupações, pois assim como eu bebo indiferença com duas pedras de álcool, ela com certeza, chupa do desprendimento com um trago de tequila. Arriba, abajo, al centro…
Bento.
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