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Somos todos como
engradados de cervejas, apesar de caixas e marcas diferentes, o objetivo é o
mesmo: ficarmos bêbados no final.
Algumas são mais
fortes, outras mais escuras. Por vezes sua força vem em doses cavalares com
ajuda de destilados ou comprimidos para ajudar a dormir. Dentre outras vem em
pequenas doses, com amendoins e amigos e sinuca e conversa fiada.
Algumas são melhores
quando quentes, outras melhores quando estúpida e cruelmente geladas. Como um
tapa na cara ou um soco no estômago.
Claro que também
existe a cerveja sem álcool, mas essa não merece sequer um comentário, assim
como algumas pessoas sem personalidade, sem alma, sem graça. O álcool está para
a cerveja como o cérebro está para o ser racional. E se você olhar em volta sei
que poderá contar nos dedos as cervejas alcoólicas que convivem em seu ciclo de
amizades.
A cerveja é a criação
mais próxima que o homem conseguiu chegar quando Deus fez a mulher e é por isso
que temos as cores amarela, preta e vermelha nas cervejas. É uma imitação pura
e sincera, porém, sem as ironias divinas. Uma cerveja jamais reclamará de você
por olhar para uma outra cerveja na mesa ao lado. Nem mesmo te trairá quando
você esquecê-la na geladeira durante dias. Apesar disso ser mais fácil
acontecer com uma mulher do que com uma cerveja. Esquece esse negócio de roda,
computador ou automóvel, pois tudo isso só foi inventado após muitas noites de
insônia e cerveja.
Então é tipo
sexta-feira, apesar de não trabalhar e todos os dias são domingos, ou sábados,
ou feriados e por incrível que pareça foi uma semana sã. Só fui fazer as pazes
com o Willian Lawson’s na quinta e tivemos uma briga feia, hoje já somos amigos
novamente e estamos dividindo um cigarro. Então nesta sexta-feira eu estou como
a cerveja esquecida na geladeira, esquecido por aqui, mas sem drama, eu que
esqueci para poder abrir o bar de casa. Abrir o bar e colocar alguns textos em
ordem, ideias em ordem. No entanto, quem eu estou querendo enganar? Escrever é
um hábito, como o sexo, quando muito tempo sem prática perde-se a mão e faz
tempo que não escrevo, então enquanto volto ao antigo ritmo fico aqui enchendo
linguiça. Portanto, se está esperando uma grande coisa, com um final
esplendoroso ou algo que te ajude a manter a sanidade nesta merda de vida que se
transformou seu cotidiano digo já de antemão; desista! Vá ler o horóscopo.
Bem, diz o ditado
popularesco e pobre que mente vazia é moradia do diabo e minha mente está
sempre cheia, contudo só tenho pensamentos putrefatos sobre tudo e todos. Não
se engane, ainda mantenho uma autoconfiança adquirida depois de muito trabalho
e conquista, mas onde quero chegar? Eis a questão. Vale? Ora, por vezes sou
usado e gosto. É o mal de conhecer a maioria dos pecados possíveis da humanidade,
conhecê-los e aceitá-los é fazer parte disso tudo, sendo assim nem posso culpar
o Destino por tanto. Este é o álcool fazendo efeito. São as ideias se
encaixando e ensaiando um recital mediúnico sobre o que eu quero, o que preciso
e o que realmente alcançarei. As palavras e ideias fogem dos dedos como a
cerveja pelo nariz após uma gargalhada. E eu fico pensando, eu gostaria de ter
visto seu umbigo aquela noite. Eu gostaria de ter visto os dedos dos teus pés
com os dedos dos meus pés e continuar bebendo em outro lugar até sabe Deus que
horas, pois as horas não passam, elas voam e logo vem seu adeus e sabe-se lá
quando a verei novamente.
Agora aqui estou eu
bebendo com Marilyn, claro que não em pessoa, mas estou eu, o Lawson’s, o
quadro da Marilyn e a gata que já foi dormir no pé da cama. O bom da Marilyn é
que eu nem contei a piada ainda e ela já sorri, aquele sorriso de Marilyn, pinup
enlouquecida. Sempre achei que faltaram tatuagens em Marilyn para ela ser
realmente perfeita. Tenho um fraco por mulheres tatuadas.
Talvez meu mal seja ser
extremamente diferente de qualquer um que conheço. Isso me parece simples e
complicado ao mesmo tempo. Falo de todas as minhas ex-qualquer-coisa. Depois de
mim nunca mais foram as mesmas. Nunca mais encontraram nada parecido ou que
chegasse perto do que eu sou e acho que foi de propósito, claro. As pessoas não
querem errar duas vezes.
Eu nunca tento me
enquadrar, elas tentaram, mas é complicado, não as culpo. Não vejo ninguém que
chegue próximo ao que sou e em momento algum estou dizendo que isso é uma coisa
boa. Não eu. Veja que curioso, eu passo metade do meu tempo bebendo e
escrevendo e se queres descobrir o que penso ou o que sinto basta perder um
pouco do seu tempo lendo isso e ainda assim existem os idiotas que não entendem
porra nenhuma e tiram suas conclusões apenas por meus sorrisos amarelos. Quão
idiotas. Não posso punir-me por qualquer pessoa que se jogue da ponte. Já não
bastam os meus problemas?
Penso em todos os meus
amores agora, olho para a Marilyn e ela me ajuda com seu sorriso e cabelos loiros,
me fez lembrar que só amei morenas, apesar de ter tara por loiras. Não sei o
que isso quer dizer, mas aceito que nenhum amor foi maior do que o que eu sinto
por escrever e beber. Nunca tão completo. Nada tão absoluto.
Neste momento o vinil
acabou e é melhor me juntar à gata.
Bento.
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