É mais um dia de verão
com uma chuva de verão e no coletivo lotado de gente os vidros estão embaçados
por meu hálito de vodca azeda da noite anterior e também de outros beberrões.
Tem também o hálito podre de um demente ao meu lado, mais o sovaco putrefato de
um outro cretino próximo, mas porra! Estamos numa segunda-feira e houve um fim
de semana inteiro para um banho. Deveria haver uma placa nos ônibus proibindo
isso, assim como existem placas proibindo aparelhos sonoros.
Eu passo o caminho
inteiro para o trabalho observando as pessoas e tentando não me desesperar com
o que vejo. Não que eu seja muito melhor que eles, só um pouco menos medíocre.
Pelo menos na maior parte do tempo. Desço do ônibus e a mediocridade continua
por todos os lados.
Tudo bem, meus jeans
são rasgados devido a idade, meu tênis é furado de andar, mas meu cérebro é
gasto de usar. “Quem sou eu?” É o que
perguntarão os incrédulos melindrosos. “Estúpido
arrogante” é o que cuspirão ao cruzar meu caminho. Só que somos todos
filhos do que queremos ser. Eu poderia preencher infinitas linhas com histórias
reais e tristes sobre minha vida. Aquela coisa de esquerdista religioso que nem
se dá conta que aparenta um esquerdista religioso colocando a culpa no sistema,
no governo, na Globo... Porém, eu prefiro deixar isso para os que não conseguem
falar de outras coisas. Na verdade, na verdade, eu poderia falar sobre qualquer
coisa. Eu posso. No mínimo fingirei que sei do que estou falando e com uma
grande porção de confiança na voz, não há quem não acredite que eu realmente
não domine o assunto.
Mas onde eu quero
chegar é exatamente sobre aqueles que não dominam nada, quiçá o básico do
básico. Repito: sem vitimismo, sem hipocrisia e autoajuda.
O coletivo ainda me
reserva qualquer coisa de nojento como uma tosse ensandecida de catarro voador.
Gordas com roupas de crianças deixando suas panças como massa crua de pão
penduradas para que meus olhos tenham o desprazer de revirar-se. Claro que o
fato de meu estômago roncar e embrulhar por causa da ressaca faz com que tudo
isso fique ainda mais intragável. E eu penso se ignorância e falta de bom senso
andam juntas como o cão e o rabo.
Inconscientemente eu
quero resolver tudo, todos os problemas do mundo. Há momentos em que me deixo
tomar por uma incredulidade afável e ao mesmo terrível. São resquícios do jovem
revolucionário que já fui. Mas logo passa. Passa, pois lembro que hoje pode ser
sexta e eu achava que ainda era quinta. O que faz brotar um leve sorriso em meu
rosto. Sexta! Ótimo. Bar. Talvez Augusta, que é para tirar esse fedor de
ignorância e desprezo com a tal vaidade. Se você não sabe do que estou falando,
está frequentando os lugares errados. O que eu posso dizer? Gosto de beber com
paisagem. Uma bela paisagem.
Assim como gosto de
belas garotas, bebidas caras e pessoas inteligentes. Tudo bem, eu posso ser um
grande filho da puta e miserável sem ter onde cair morto, só que meu bom gosto
é inegável. Sim, bom gosto. Esse é meu maior castigo, pois tudo isso, bebidas
de alta qualidade, bem como, cerveja holandesa, bourbon americano e vodca russa
custam bastante dinheiro. Mulheres bonitas e inteligentes custam dinheiro. Uma
bela vista, tomando um belo drinque com uma bela mulher custa muito dinheiro.
Um dinheiro que eu não tenho. Mas o que eu posso fazer? Cheguei numa altura do
campeonato que só gosto de coisas intensas. Desde os porres até o sexo. O tempo
está correndo e minha vida está acabando, então, bota intensidade nisso aí
garota!
Uns tapinhas, puxões
de cabelo e coisas novas são sempre bem vindos.
Então, no meio de tudo
isso. Desde os momentos restritos a minha companhia apenas, até em público, existem
sorrisos que brotam dos meus dentes amarelos de nicotina. Amarelos são os
dentes, não os sorrisos. Coisas tolas como dançinhas súbitas, assovios alegres
e cantorias sem timidez aonde quer que esteja. Uma alegria inexplicável. E
algum romântico incurável como eu pode dizer: ele está apaixonado. Seria a coisa mais sensata a se pensar e até
para tornar o texto mais interessante eu poderia assentir tal argumento. Porém,
justificar toda essa estranheza e peculiaridade em uma mulher seria injusto não
só comigo, mas também com a tal da alegria.
Estou tão singular
como sempre estive. Apenas em estado de graça. Por quê? Não sei. Não espere
agora que eu diga algo que te indicará um caminho. Não pense que virá um grande
conselho de autoajuda. Pois não virá. Não tem receita. Estou simples e
unicamente bem e mentindo como nunca. Ou estou zen ou desesperado ou doído,
carcamano, ou ferido e alcoólico. Ou tudo isso. Ou só isso. Bem, é isso.
Bento.
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Um comentário:
Adorei blog, realmente muito bom os posts..
Parabéns
Continuando desse jeito, você vai realmente muito longe !
Se quiser conhecer o meu também, tem post novo lá..
http://bruhbrito.blogspot.com.br/
Beijos e sucesso pra ti ;*
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