quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O POETA E O FILHO DA PUTA

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Não existe no mundo nada mais clichê que uma manhã chuvosa em São Paulo. Claro, digo isso para quem acorda cedo e sai de casa antes mesmo do Sol tomar sua segunda caneca de café.
Eu sou um paulista que odeia garoa e frio, exceto claro, quando estou em casa dormindo. Todas as coisas me convêm quando são ao meu favor.

O problema é que eu não estava dormindo, não estava sequer em casa e acabei descobrindo que fui excluído do Facebook. Digo, não da rede toda, mas uma pessoa específica me excluiu. Tudo bem, não foi a primeira vez, nem foi a primeira vez que esta pessoa me excluiu de alguma coisa. Primeiro fui extirpado da vida dela, depois do Facebook. Eu disse tudo bem? Porra! Quem eu estou tentando enganar? Tudo bem é o caralho. Fiquei puto. Com sangue nos olhos. Boca seca e morrendo de vontade de beber e descontar a raiva nas garrafas. Ou talvez sair e comer a garota mais bonita que eu encontrar. O problema é que eu estava num ônibus lotado, careta e atrasado para o trabalho.

Então venho ruminando o fato de ter sido excluído até agora. Eu parei de tentar buscar explicação para o fato de ainda me importar com qualquer decisão tomada por uma garota da qual eu não toco há cinco anos e aconselho vocês a nem começarem. Nem tudo tem explicação. Pelo menos não uma explicação razoável.
Alguns autores bostas de autoajuda dizem que as coisas são exatamente como devem ser e eu acho isso uma forma de tirarmos a responsabilidade das nossas costas pelas merdas que saem das nossas bundas. Então eu venho com outro clichê dizendo que a vida é um ciclo e de tempos em tempos eu tenho algo parecido com uma TPM. Tenho meu período de me maltratar. Meu período de maltratar o próximo. O período de assassino em série e o de querer foder todo mundo. Também tenho o período de beber muito e aquele de beber um pouco mais. A fase de mais destilados que fermentados e vice-versa. A fase de ser atacante e a de ficar na defensiva. O casulo e a lagarta. O poeta e o filho da puta. Tudo muda o tempo todo menos isso. Cem por cento menos um, menos dez, menos mil.

Bom, nesta minha fase o sol é insuportável, o frio é insuperável, o mormaço me sufoca e só o que liberta-me é amaciar a mente com tragos firmes e intensos. Algumas pessoas diriam que isto não passa de uma desculpa para beber. Mas quem de nós não passa a vida inteira procurando desculpas para qualquer coisa? Se o Diabo é o pai da mentira também é padrasto da desculpa e eu pedi tantas, incansavelmente, nem todas merecidas, porém às pedi mesmo assim no intuito de provar arrependimento. Claro que eu não consegui e estar na pele de um perdedor é ruim para um vaidoso como eu.

Mas por que a exclusão? Por que agora? Psicólogos diriam que este sentimento é só curiosidade de saber o motivo. Eu diria que psicólogos ganham dinheiro fácil. Há curiosidade. Mas nesta minha Sina eu me pego pensando o que não há?
Tudo no mundo é alimentado por alguma coisa. Desde os átomos aos micróbios. É a energia que move o mundo e meu alimento era saber que ela poderia estar olhando como ela me revelou uma vez. Não sempre, em algum momento, um mínimo instante, qualquer fração de segundo e lá estaria ela vendo-me, lendo-me, agora, nada. Nada!

Nem um sopro de ar, nenhuma fagulha de chama, nenhuma ficha para apostas. Sem portas nem janelas. Sem vista, nem olfato. E é quando eu quero culpar e culpar. Culpar Deus e o Inferno. Rasgar a carne, extirpar órgãos. Usurpar sonhos. Estuprar as virgens dos paraísos, destruir religiões, estraçalhar sorrisos e matar tudo que é belo. Quero incendiar igrejas e demolir santuários. Quero esquartejar anjos, decapitar santos e pendurar suas cabeças como exemplo, quero destronar o Diabo, aleijar demônios, vingar-me do destino e banhar-me em todo o sangue. Maldito, sorrir e me banhar. A morte como estandarte. Gargalhar com a desgraça toda e brindar em cima dos cadáveres. Pois é tudo o que tenho. E só o que tenho e duvido muito que mereço mais que isso. Sequer isso.


Bento.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

UM VICIADO EM SEXO COM ASCO DE CALCINHAS É COMO UMA VACA COM ALERGIA A LACTOSE

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Eu estou no segundo copo de whisky e tenho escrito algumas coisas um tanto fortes para o perfil das pessoas que leem o que escrevo. Eu não me importo, pois mais prazer que ter pessoas lendo o que eu escrevo eu tenho quando escrevo o que eu quero então foda-se. Esse whisky que eu tomo hoje eu ganhei de uma garota, e uma vez ou outra eu ganho esses tipos de agrados. Além, claro, dos agrados sexuais. E tenho de dizer que uma garrafa de Jack é sempre um bom presente a se receber.
Digo isso pois tenho alguns vícios que vocês já devem conhecer todos muito bem. Logo, dentre tantas discussões medíocres por aí sobre política e a porra toda, ao invés de ir ao bar eu prefiro ficar em casa tomando grandes goles de Jack e mantê-lo na boca por alguns segundos até sentir todo seu sabor.

Houve um tempo que passei a odiar calcinhas. Não sei dizer ao certo de onde veio isso, mas era só ver uma garota no meu quarto, começarmos a nos beijar, o sexo pedindo passagem e eu imediatamente arrumava um jeito de tirar a calça da garota com calcinha e tudo para que não tivesse que olhá-las. Calcinhas feias, bonitas, grandes ou pequenas, renda ou algodão. Eu só odiava calcinhas. Perdia um terço do meu tesão caso me deparasse com elas. Eu nunca gostei de lingerie vermelha - isso também não é segredo - mas nesta época eu não gostava de calcinha nenhuma. De nenhuma cor. Só de ouvir uma música do Wando eu já ficava enjoado imaginando um mundaréu de calcinhas em cima de mim. Era complicado e nada saudável. As calcinhas penduradas nos varais dos vizinhos faziam meu corpo se contrair. Bem, dito isso, deixo claro aqui que um dos meus vícios, dentre tantos, é o sexo com garotas e de preferência magrelas e tatuadas, e não é nada - nada mesmo - saudável ter asco de calcinhas quando se está todo fim de semana bebendo, fumando e baixando calças junto com calcinhas para que não às veja. Uma hora ou outra o truque falha. Um viciado em sexo com asco de calcinhas é como uma vaca com alergia a lactose. Não faz muito sentido. De qualquer forma, assim como veio passou esse negócio das calcinhas.

Não muito depois disso eu comecei a trocar as garotas magrelas e peitos grandes por garotas de peitos pequenos e bundas enormes. O que vai contra tudo o que eu prezo numa garota. Mesmo assim troquei todas. Até aquelas que iam até minha casa regularmente eu deixei de lado, pedi espaço, aquela coisa de homem de precisar respirar ares novos, precisar de um tempo só. Como eu escrevo, para algumas garotas eu dizia que precisava focar mais na escrita, pois estava relaxado, perdendo a mão. Curioso é que esta desculpa foi a que teve mais aceitação. As garotas diziam: Ok, amor. Me manda um texto para eu ler.
- Certeza que mando. Eu respondia.

Então comecei a procurar as bundas enormes por bares e conhecidas que eu não reparava por não se tratarem do estereotipo que até então admitia. Tudo transcorreu perfeitamente bem. Conheci belas bundas. Brancas, negras, bundas grandes, muito grandes e as gigantes e desproporcionais. Bundas que batiam nas minhas coxas de tão grande quando colocadas por cima para trabalharem. Nesta época eu percebi que eu não ligava tanto para a beleza dos rostos - vejam que heresia - afinal, eram as bundas que eu olhava. Ter uma grande bunda nas mãos e não aproveitá-las da melhor maneira possível é estupidez. Para quem gosta de tamanho as brancas são as melhores, pois aparentam ser bem maiores, só que tudo é uma questão de ótica.

Então essa fase das bundas também passou e eu voltei às magrelas. Nunca me decepcionei com garotas ossudas. A flexibilidade, a agilidade, a safadeza...

Tem uma coisa também e isso parte mais de uma particularidade que qualquer outra coisa. As melhores transas da minha vida foram com magrelas. E muita gente acha que eu critico as gordas pelo simples fato de nunca ter tido uma boa transa com uma gorda e eu respondo: É verdade. Mas não é isso. Entendo eu que gordas são gordas e que essas mesmas gordas têm um desejo imenso de serem magras e não conseguem. Eu entendo isso. O que eu não entendo é essa mania das gordas de tentarem nos convencer de que estão bem sendo gordas e que nós homens é que somos uns fúteis por preferirmos beleza e magreza e não nos importarmos com - muita atenção para o termo que eu usarei agora - "beleza interior". Como se as gordas fossem melhores que as magras só pelo fato de serem gordas. Como se nossos neurônios estivessem ligados à quantidade de banha que temos em nossos corpos. É só pra mim que soa arrogante uma pessoa achar que é mais inteligente que todas as outras que são mais atraentes sexualmente que ela? É visível só pra mim que o mesmo preconceito que as gordas dizem sofrer elas têm com as garotas magras?
Bem, sinto em dizer - mentira, não sinto - mas eu prefiro as magras, pois é bem mais fácil ensinar uma equação matemática à um macaco que convencer um elefante a parar de comer.

Então eu tenho essa insistência com gordas e muita gente diz que vou acabar terminando meus dias ao lado de uma obesa. Pode até acontecer, contudo isso é tão possível quanto eu acabar casando com um saco de berinjela, pois eu não gosto tanto quanto.

Eu também falo uma porção de coisas sobre os religiosos e por incrível que pareça esses enchem menos o meu saco com essas crises de hipocrisia. Esses são hipócritas só com a vida e o mundo, comigo nem tanto. Mas é bem capaz - segundo diz a lenda - que eu casarei com um saco de berinjelas, morrerei esmagado por uma gorda e partirei sem escalas para o inferno, deixando órfãos duas ou três crianças berinjelas, afinal também não suporto criança. Isso, claro, se nenhuma gorda aparecer para comer meus filhos.



Bento.

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sábado, 22 de novembro de 2014

PEITOS, PEITOS GIGANTES, UMA ENORMIDADE DE PEITOS, TETAS DO TAMANHO DE BALÕES

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- Roger! Rooooooger. Traga mais uma aqui, filho. Não vê o calor que está? Quer matar seus únicos fregueses?

Não tinha muito tempo que o dia tinha clareado e estava tão calor que um pequeno facho de sol que pegava na minha perna nua fazia exalar cheiro de pelo queimado. Tão cedo e Lincoln já gritava como se estivesse acordado há horas. Algumas pessoas são assim, levantam da cama falando alto e cantarolando e contando piadas e isso me deixava extremamente mais estressado, além do fato de ter que acordar. Não necessariamente acordar, mas levantar. Eu preciso passar por certas rotinas antes de despertar. Eu levanto mas não estou desperto.
Primeiro eu levanto, dou uma boa mijada ainda com o pau duro e sempre preciso enxugar o chão e a privada dos resquícios de urina. Nisso eu já acendi meu cigarro, dou um belo trago e encho uma boa caneca de café. Não é que eu ame café, porém eu gosto mais de café que acordar. Só que este dia em especial estava um calor de três infernos, fato que me fez acordar transpirando como se estivesse acabado de transar com duas garotas adolescentes bissexuais e ninfomaníacas. O café quente rasgava a minha garganta e eu só consegui beber meia caneca. Depois disso preferi abrir uma cerveja e todos sabem que depois da primeira fica bem difícil parar. Meus olhos ainda estavam grudados e ardendo e a cerveja não durou cinco minutos. Foi como beber um copo d'água, só que melhor. Não sei se foi a cerveja ou o café mas me deu vontade de cagar e por lá fiquei quase meia hora, não cagando, claro que não, mas é impossível cagar e não fumar um cigarro, desta vez eu fumei dois.
Finalmente lavei o rosto e escovei os dentes e lembrei que tinha muitas coisas para resolver e estava muito quente para resolver qualquer problema. Alguém uma vez disse que o que não tem remédio remediado está. Para todas as outras acreditei que não haveria problema esperar até o próximo final de semana. Vesti uma camiseta e fui até o bar do Roger. Foi onde encontrei Lincoln de bom humor e fiquei indignado. O bar do Roger era um boteco gorduroso, contudo a cerveja era barata e estava sempre gelada. Por causa da umidade das paredes o cheiro de mofo era grande mas funcionava como um ar-condicionado natural. Mesmo assim estava bem quente. Sentei em uma das mesas e Lincoln veio sentar comigo.

- Cara, faz tempo que você acordou agora? Hahaha. Ele perguntou

Lincoln tinha disso. Era um bom beberrão mas sempre tinha essas piadas prontas na ponta da língua. Eu me limitei a tentar um sorriso mudo.

- Noite difícil? Ele insistiu.

- As noites nunca são difíceis, as manhãs sim. Respondi.

- É o que eu sempre digo, cara. Ele disse.

Eu nunca tinha ouvido Lincoln dizer aquilo, sequer me lembrava de ter dito aquilo alguma outra vez em toda a minha vida, mas se ele estava dizendo.

- Mas melhora essa cara que eu tenho uma boa notícia, foi até bom te encontrar aqui. O que vai fazer hoje? Ele perguntou.

Nisso o Roger já tinha trazido um copo e uma garrafa de cerveja tão gelada que saia fumaça e amaciava as cordas vocais. Tão gostosa que eu quase fiquei de pau duro com aquela cerveja. Mal ouvia o que Lincoln dizia então respondi no instinto.

- Bom, vou beber até ficar com fome, depois vou pra casa almoçar e dormir até acordar para continuar bebendo, talvez escrever um pouco.

- Que isso, cara? Sabe que sou seu amigo e não vou te deixar nesse programa de índio não - Lincoln pegou o celular e com os dedos ágeis, muito ágeis para àquela hora da manhã, apertou o telefone até achar o que queria – está vendo esta garota? Estou comendo, cara.

Olhei para a garota e posso dizer que poucas vezes na vida vi algo tão grande. Bochechas que caía sobre uma papada enorme que caía por cima de algo que imaginava ter sido um pescoço um dia e peitos, peitos gigantes, uma enormidade de peitos, tetas do tamanho de balões daqueles de festas que enchiam de balas e estouravam quando estávamos abaixo disputando quem pegava mais balas e pirulitos e guarda-chuvas de chocolate que na verdade não passavam de gordura hidrogenada.
Era um amontoado de banha e carne e barriga e gordura e tetas e cabelo, tanto cabelo quanto um ralo de banheiro público. Mas o cabelo não era de todo ruim, pois só por causa dele que pude com muita dificuldade identificar aquilo como uma mulher e também pelo fato de Lincoln mostrar aquela imagem assombrosa logo após chamá-la de garota, e pior, que ainda estava transando com a tal. Entendam a minha indignação e podem me julgar depois. Mas Lincoln era um sujeito baixo, talvez um ombro mais baixo que eu, porém tinha uns trinta quilos a mais. Conhecia Lincoln desde a época de escola e ele nunca fora um dos primeiros a ser escolhido para jogar futebol nem qualquer atividade que exigisse o físico. Lincoln também não era dos mais inteligentes, porém isso não vem ao caso. Lincoln era obeso. Não um gordo esparramado, contudo tinha uma barriga que não tinha muito orgulho de mostrar por aí. Eu nunca passei dos 65 quilos, logo, não serei eu a explicar de que forma dois serem humanos com tanta massa corpórea podia praticar o ato sexual. Tentei imaginar mas foi em vão.

- Sentiu o nível? E vou te ajudar, podemos marcar algo em casal. Lincoln disse.

- Cara, realmente...

- O que foi? Está sem mulher pra hoje?

- Pois é... Eu disse e ergui o braço para Roger trazer mais uma garrafa.

- Essa eu pago, Roger. Disse ele - Não tem problema, cara. Ela tem uma irmã.

- Não leva a mal, Lincoln, mas como é exatamente o corpo desta irmã?

- É gostosa igual, cara. Ele respondeu.

Roger trouxe a cerveja e Lincoln mostrou a foto para ele. Roger era casado e tinha três filhos no espaço de três anos, portanto fazia tempo que ele via sua mulher com o corpo volumoso e mesmo assim ele assustou-se ao ver o monte de coisa denominado mulher por nosso amigo.

- É, Lincoln. Essa deve dar trabalho. Ele disse em tom irônico e Lincoln orgulhoso não percebeu. Tanto que não sei se seu rosto ficara vermelho por causa da cerveja, do sol, do orgulho de macho comedor, ou se ele sempre tivera o rosto vermelho e eu nunca tinha percebido.

- Olha, Lincoln - servi os dois copos com cerveja - eu vou passar essa. Tenho mesmo que escrever. Eu disse.
- Porra, Bento. Você precisar viver para escrever as coisas, entende? Ele disse.

- Eu já tenho traumas suficientes para escrever durante a vida toda. Não preciso de mais um.

Eu não queria estragar o barato do gordinho falando que tinha achado a garota dele uma grande massa de banha com olhos. Estava me segurando como quem segura a urina depois de meia dúzia de cerveja, mas aos poucos eu ia escorregando.

- Não fala besteira, Lincoln. Para escrever vasta ser criativo, ou você acha que o Spielberg viu mesmo o E.T? Disse Roger.

- Porra, Roger. Mas ele é o Spielberg. Disse Lincoln dando mais ênfase no Spielberg que o necessário para eu entender o sentido da sua insinuação - Vamos combinar que nosso amigo aqui não vai escrever nenhum Scarface.

- Ei! Eu disse.

- É! - Roger disse - Não foi Spielberg quem escreveu Scarface, foi o Scorsese.

- Não foi o Scorsese, você deve estar confundindo com Goodfellas. Eu disse.

- Mas quem fez esse não foi o Tarantino? Lincoln perguntou.

- Não fala merda. Tarantino não tinha nem pelo no saco nesta época. Pulp Fiction que é do Tarantino. Roger disse.

- Porra, adoro esse filme. Disse Lincoln - Mas eu achava que era de um tal de Brian de Palma.

- Brian de quê? Roger perguntou pra mim.

- Não faço ideia. Eu disse - Mas foda-se! Do que é que vocês estão falando, caralho? Quantas vezes leram algo que eu escrevi?

Ambos balançaram a cabeça negativamente.

- Mas você não me parece o cara mais esperto do mundo, vamos combinar. Disse Lincoln.

- Vai se foder. Não era eu que colava nos ditados da escola. Eu disse.

- Isso faz muito tempo. Lincoln disse.

- Foda-se! Eu retruquei. Matei a cerveja que estava no copo e continuei - E quer saber? Sua mina é gorda pra caralho! Eu prefiro mil vezes bater uma bem batida que comer uma gorda dessa.

Roger arregalou os olhos e pediu calma.

- Mas só o que você faz é bater punheta. Disse Lincoln.

- Foda-se! Eu disse.

- Foda-se! Disse Lincoln.

- Vou buscar mais uma cerveja e beber com vocês. Disse Roger para amenizar a situação.

- Traz um Dreher que esse assunto me estressou. Lincoln disse.

- Põe na minha conta. Eu disse.

Roger voltou e continuamos falando sobre qualquer coisa. Filmes, mulheres, o calor infernal. Falamos de futebol e ameaçamos discutir novamente. Quero dizer, quase discutiram Roger e Lincoln, pois comigo nenhum deles tinha este privilégio. Estávamos muito bem no campeonato. Eu assistia, molhava a garganta e gargalhava das besteiras que falavam. Nesta altura eu já estava acordado mas minha barriga começara a roncar e minha bexiga deu sinal de vida pela primeira vez. Até que adentrou um sujeito que Roger teve que interromper a conversa para atendê-lo. Sujeito estranho aquele, àquela hora no bar para comprar cerveja. Todos ali na vila já tinham lhe visto, mas acredito que quase ninguém se lembrava de seu nome. Roupas caras, de marca, porém muito velhas. Dava a sensação de que tivera dinheiro um dia e por um acaso ou uma decisão errada perdera tudo. Lincoln e eu paramos de conversar para observá-lo. Alto e magro, jovem com aparência de velho, cabelo penteado pro lado. Lincoln me cutucou com o pé por debaixo da mesa e com o queixo apontou o tal sujeito falando baixo.

- Telemarketing, esse aí.

- Sério? Questionei.

- Certeza. Quem falou foi o Miltinho. Diz que ouviu uma conversa dele ao telefone. Sem querer, é claro. Ele disse.

- Sabia - Eu disse - Está muito na cara.

- Não tira essa roupa. Não deve ser bom vendedor. Ele disse.

- Pobre coitado - Bati três vezes na madeira com o nó dos dedos - Deus me livre.

Lincoln balançou a cabeça perplexo. No mundo em que vivemos, não se pode ser um perdedor assumido. As pessoas precisam fingir-se de vencedoras. Todos estão felizes e tudo é maravilhoso. O problema daquele sujeito era a tristeza impregnada em seus olhos. As roupas que denunciavam seu passado vigoroso. Era um jovem que perdera as esperanças. Desistiu.
Ninguém pode desistir em nossa sociedade, pelo menos não por aqui. Tudo se baseia em você ter sempre um sorriso a tiracolo para dar ao vizinho, ou ao caixa do supermercado, ou a sua tia que você só vê em datas comemorativas que é quando ela confunde o nome da sua antiga namorada pela que veio antes. Temos que sorrir aos carteiros e testemunhas de Jeová. Temos que ter ternura e sorrir para bebês, mesmo os feios e sujos e catarrentos. Mau humor é para os jovens e rebeldes e presidiários e homens superpoderosos. Nós não podemos demonstrar fraqueza nem mau humor simplesmente porque a vida é maravilhosa e se ninguém reclama quem você acha que é para se sentir com este direito?

Então o tal sujeito pegou duas latas da cerveja mais barata. Uma ele colocou na mochila que levava pendurada no ombro apenas por uma das alças, a outra ele abriu e deu um grande gole. Pagou com notas amassadas e moedas.

- Bom dia. Por um acaso vocês não teriam um cigarro? Ele dirigiu-se a nós.
Lincoln serviu-o do seu maço de Hollywood com prontidão.

- Pode pegar. Ele falou.

- Obrigado. Disse o sujeito e partiu.

- Lamentável. Lincoln disse.

- É... Eu disse.



Bento.

sábado, 8 de novembro de 2014

NÃO EXISTE PROBLEMA NO MUNDO QUE NÃO PAREÇA INSIGNIFICANTE QUANDO SE ESTÁ SENDO CHUPADO DECENTEMENTE

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Somos todos estranhos mordedores de nada. Somos um monte de bosta sem saber pra onde ir. Digo que a única coisa da qual tenho conhecimento é meu gosto e disso eu entendo super bem. Por mais bêbado que se possa estar sempre sobra uma fagulha de consciência. Você está lá, em algum lugar dentro da sua mente assistindo na primeira fila as merdas que você faz. Claro que "merda", no meu entendimento é um termo ambíguo. Pode ser bom ou ruim dependendo da ótica.

Estamos num calor de 400 graus e eu estava deitado nu com as costas no chão, levantando a cabeça somente para mamar a garrafa de cerveja. A garota estava deitada de bruços na cama alisando meus cabelos e brincando com minhas sobrancelhas enormes. Lucia era o nome dela.

- Não sei o que você tem, mas você tem... Sabe? Ela dizia.

Eu não fazia ideia do que ela falava, mas eu ainda tinha cabelos dela grudados em meu peito magricela e era difícil raciocinar com todo calor que anda fazendo.

- Eu acho que você esta empolgada só porque gozou, amor. Não tem nada demais. Eu respondi.

Ela pegou a garrafa da minha mão e bebeu um gole longo. Pedi que ela acendesse um cigarro e me ajudasse a fumar. Ela acendeu e colocou na minha boca para que eu pudesse tragar e depois ela também fumava.

- Não é só porque eu gozei. Claro! Também é porque eu gozei, mas nem era pra eu dar pra você. Você é o cara mais podre que eu conheço. Ela disse.

Pedi mais um trago no cigarro e seus dedos compridos e magros levava-o até meus lábios. Eu não vou negar que senti um tremendo orgulho subindo pelo meu peito. Eu sempre disse que se é para ser melhor em alguma coisa então que isso lhe traga algo de bom. Ser o pior cara que ela conhecia deixava-a de cabelo em pé e com uma luz de alerta bem acesa. Ela transou comigo por uma inconsequência e já repetiu tal equívoco meia dúzia de vezes. O que ela queria saber é porque não conseguia sentir o mesmo tesão pelos cuzões que levavam ela a motéis caros em seus carros emprestados dos pais e correntes de prata no pescoço que poderiam me fazer tombar para frente. Ela não sabe a resposta até hoje, eu também não sei, mas suspeito que tudo é uma questão de estilo. Faça tudo com muito estilo, com originalidade, pode ser que não dê em nada, mas pode ser que você seja apontado na rua como O Cara. Nunca se sabe.

- Talvez você precise conhecer mais gente. Eu respondi a acusação dela com uma falsa modéstia

- Sem falsa modéstia, senhor Bento. Ela disse.

Eu sorri de olhos fechados e joguei o restante de cerveja da garrafa direto na boca. Um pouco escorreu pela minha barba e ela passou os dedos e chupou. Chupou como se chupasse algo maravilhosamente saboroso. Claro que isso foi o suficiente para que eu ficasse duro novamente e fossemos para debaixo do chuveiro transar mais uma vez.

Toda vez que ela vai embora sentencia que não voltará mais. Eu sinto receio de que um dia ela cumpra a promessa, no entanto não demonstro. Finjo que não ligo, que não acredito e ela parece não acreditar, tomando minha atitude como um desafio. Eu não quero que ela pare de vir, porém não consigo juntar forças para dizer que quero que volte sempre. Toda a minha força foi gasta com alguém que nunca voltou, logo, tenho por mim que quem quer fica, quem não quer parte sem retorno e isso independe de qualquer coisa que fazemos. As pessoas simplesmente fazem o que elas querem, sem se importarem com qualquer outro que não eles mesmos. Não podemos assumir responsabilidades por coisas que não são de nossa alçada, que não podemos controlar. Uma transa é só uma transa até que os dois resolvam dar mais significado a ela.

De qualquer forma, numa outra situação lá estava eu com outra garota. Esta não era tão magra quanto Lucia, nem tão bela, mas conseguia me fazer gozar com uma habilidade que só ela possuía.
Num dia desses lá estávamos bebendo cerveja até que ela decidiu me chupar.
Chamava-se Priscila e chupava como se sua vida dependesse disso. Um talento pouco visto em todos esses anos de bebedeiras e situações imprevisíveis que já tive. Eu sempre valorizei uma garota que chupe e pareça gostar de fazê-lo. Mas para não me afastar muito do assunto. Eu ganhava uma boa chupada e fumava meu cigarro intercalando com goles de cerveja. Para você que está lendo isso lhe garanto. Não existe problema no mundo que não pareça insignificante quando se está sendo chupado enquanto dá uns traguinhos. Tudo no mundo torna-se mesquinho e sem importância. Eu penso que os programas sociais do governo deveriam substituir as bolsas quase-nada e casas populares por belos e deliciosos boquetes. Todos seriam mais felizes. Você pode aguentar morar de aluguel, o que não se pode passar sem é um boquete bem babado.
Cheguei a pensar nos outros caras, quantos deles passaram ou passarão a vida inteira sem uma chupada sensacional? Ou pelo menos sem viver um momento como eu estava tendo a oportunidade de ter. Ela chupando e eu fumando. Quantos contadores, auxiliares administrativos, bancários, vendedores, garis, formarão famílias, farão tratamento de canal, morrerão de câncer sem serem chupados decentemente, ou terão o privilégio de serem chupados por duas garotas ao mesmo tempo? Olhar para baixo e ver duas cabeças brigando para abocanhar seus pintos. Esses caras podem até dizerem que a vida não é só isso, mas garanto a vocês que todos, sem exceção, lamentarão em seu leito de morte os boquetes de suas respectivas esposas. Digo isso, pois boa parte das mulheres chupam com um sacrifício na alma. Algumas mulheres usam o boquete como moeda de troca e só não conseguem mais porque não fazem decentemente. E eu me vi como um cara de sorte. O Destino tem lá suas crises comigo, mas de tempos em tempos me faz um agrado.

Mesmo assim, ainda existem aqueles caras que se contentam apenas com as calcinhas de suas esposas penduradas na lavanderia de seus apartamentos minúsculos com o fundo da peça amarelado virado para o vitrô da cozinha. E a cada garfada no purê de batata ele sente o gosto do que ele imagina ser o mesmo gosto do corrimento no fundo da calcinha. Tudo isso é só imaginação, claro.
Ainda existem os homens que preferem as garotas que deixam seus absorventes usados fora do lixo do banheiro ou que justamente no dia que vai deixar o sutiã a mostra elas escolhem o mais velho e encardido. Preferem a vida de dormir assistindo a novela e ir ao hipermercado aos domingos. Assim como existem mulheres que preferem os homens que tentam se parecer com o Gustavo Lima com tatuagens de arame farpado e cabelos lamentáveis. Ou os barrigudos que passam a vida mostrando o rego acima do cinto. Que levam as chaves penduradas no bolso da calça. Que usam cuecas vermelhas, amarelas e afins. Homens de sapatenis. Homens que vão até a venda de samba-canção. Aos meus olhos são todos estranhamente doentes, bem como eu deva ser insanamente incomum para alguns. Somos todos estranhos. De uma mediocridade tamanha.


Bento.

sábado, 18 de outubro de 2014

VIAGEM SÓ DE IDA AO INFERNO E FANTASIAS DE GAROTAS


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Eu sempre penso no passado e no futuro. Penso pois sou de pensar muita coisa. Não vou negar, sou um arrogante e um egocêntrico que quando penso, logo penso em mim e em minha vida. Sou um egoísta porque prometi que seria há tempos e cumpro até hoje.
Penso que alguns anos atrás eu estava voltando para casa tão bêbado quanto se pode estar. Eu não sabia onde estava, mas sabia para onde ia. Instintivamente eu sabia. Bêbado nunca esquece o rumo de casa, quando esquece está morto. Eu sou um bêbado, nunca escondi de ninguém, no entanto eu sou. Há tanta gente por aí que sequer é alguma coisa.

Então uns quatro anos atrás, ou mais eu diria, eu estava muito bêbado e andarilho, isso porque tinha perdido o último metrô. Tinha parado no meio do caminho para mijar, pois quem bebe sabe que chega um momento que não se pode mais segurar. É como o vômito, se pede passagem dê boas vindas, não há o que fazer. Eu já não vômito há uma década, mijar é outra história. Eu estava há quilômetros da minha casa e precisava andar muito. Meus pés já não aguentavam mais e meus cigarros estavam acabando. Minhas pernas entrelaçavam uma na outra e minhas mãos e cotovelos em carne viva de tanto se apoiar nos muros. Por duas vezes quase ganho uma mordida de cachorro por enfiar o braço em um portão perigo. Beber é para quem tem o dom. Não se pode decidir da noite para o dia ser um beberrão, é preciso talento e coragem, destreza e habilidade e isso eu sempre tive de sobra. O fato é que cansei, e surpreendam-se se quiserem, eu cansei de andar. Mesmo bêbado cansei. Meus pés latejavam a ponto de me fazerem esquecer dos ralados nas mãos e braços. Eu fumava e sentia embrulho no estômago, quase que vomitando, porém como eu disse, eu nunca vomito. Sentei e dormi. Dormi o sono dos vencidos. Olha que nunca fora fácil derrotar-me, não para o álcool. Sempre brigamos de igual para igual. Mas como profissionais, daqueles que se respeitam e se cumprimentam ao final de cada luta. Nesta fui vencido e dormi. Ali, na sarjeta, com a bituca do cigarro ainda entre os dedos. Acordei com os mendigos, com o sol e as portas de aço dos comércios se abrindo para um novo alvorecer do capitalismo e só depois cheguei em casa.
Vou ser sincero, não foi a primeira nem a última vez que dormi na sarjeta. Não eu. Num outro texto eu falei sobre homens que perdem um amor e o quão eles deixam de existir. Bem, vendo o homem que sou hoje tenho de dizer que há três ou quatro anos eu não era nem dez por cento, não chegava a dez por cento. Era um maltrapilho metido a esperto e de uma arrogância tamanha simplesmente porque tinha lido dez vezes mais livros que qualquer outra pessoa que eu conhecia. Mas o que isso queria dizer, eu me pergunto hoje e eu mesmo respondo: nada, exatamente nada. Enfim, eu não passava de um estragado que vivia estragando a minha vida e a vida das pessoas que me rodeavam. Tive amigos ficando depressivos para acompanhar minha fossa. Vê se pode? Não quer dizer necessariamente que eram todos bons amigos, não, definitivamente não. Alguns eram, mas nem todos. De toda forma eu era um lixo, e mesmo que eu pudesse não teria meu amor de volta. Também pudera, quem gostaria de ter ao lado alguém como eu? Muita gente, se querem saber. Foi uma época que transava como ninguém e por incrível que pareça, mesmo bêbado como um porco ainda tinha saúde a ponto de transar e merecer que elas voltassem. Não todas, só as que eu queria que voltassem. Desta época tenho garotas que voltam até hoje, pois sabe como é, algumas coisas são como andar de bicicleta. Mas definitivamente não foi a primeira vez que eu acabei dormindo com a cara na sarjeta. E pela primeira vez eu vou dizer aqui: tudo culpa de uma mulher. Tudo culpa dela. Do primeiro copo ao último cheiro na carreira.  Todas as brigas, os porres, as transas de esquina, as esporradas na cara de estranhas, os gorfos alheios em meu pau e etc. O lixo, a podridão, a destruição do meu corpo e minha alma, o pacto com o Diabo, é tudo culpa dela. Claro que houve uma cooperação de minha autoflagelação e minha persona non grata no mundo dos inocentes, mas de resto a culpa é unicamente de uma mulher. Eu sei qual é, algumas pessoas sabem de quem eu falo, talvez você mesma esteja lendo isso e me acusando de calúnia, porém a culpa é sua. Pronto. Resolvido. Vida que segue. E seguiu, mais ou menos. Pois assim como a culpo pelas mazelas eu também dou credito pelos louros. Sempre disse aqui que não comecei a escrever do nada. De início escrevia letras de músicas, mas eu era um jovem e não sabia nada da vida. Com a tragédia passei a escrever outras coisas até que cheguei aqui. E depois, só depois de quatro anos e pouco a culpo por qualquer coisa ruim. Acontece. Tarda mas não falha.

Mas queria falar sobre outra coisa. Queria falar como as coisas simplesmente acontecem. Eu nunca fui daqueles de decorar frases feitas para soprar aos ouvidos das garotas e esperar que elas caíssem de amores por mim. Talvez fosse minha rejeição aos clichês falando mais alto desde cedo. Eu sempre fui o sujeito que fui chegando aos poucos, com cuidado, me aproximando como um gato da folha seca. E sem que elas dessem conta do perigo lá estava eu com as garras afiadas na carne crua e macia, pronto para me deliciar. Ainda hoje as coisas seguem da mesma forma, o destino coopera porque ele gosta de se divertir e eu sou um bom entretimento para ele. Como um serial killer eu me aproximo fingindo-me de inocente mas sendo denunciado pelo olhar e este sempre me trai, afinal de inocente ele não tem nada.

Pronto.

Acaba que somos dois seres desejando a mesma coisa nas ainda disfarçando e é dessas situações que saem as melhores transas. Uma casal de mineiros se comendo secretamente. Aprendi que o maior segredo da conquista esta no cotidiano. Artificialmente consigo fazer com que uma coisa leve a outra, todavia tudo foi planejado, inclusive as falas. A cerveja ajuda a afastar a inibição e brincadeiras vão virando verdades conforme as garrafas vão esvaziando e pronto, simples assim. Parece fácil, só que não é. Necessita de talento para tanto.  Falando em talento, se este é a primeira vez que lê algo meu precisa saber que eu sou um egoísta do tamanho do mundo e que possuo tamanha arrogância de escrever só para mim. No entanto, hipócrita não sou e não vou fingir que torno meus pensamentos públicos para regar minha vaidade. Então estava conhecendo um novo bar com alguns amigos e todos começaram a falar de meus textos. Uma garota dizia que inspirava-se neles para escrever. Um cara dizia que esperava ansiosamente cada publicação imaginando-me no ato da escrita com máquina de escrever, whisky, cigarros e os demônios à sobrevoar minha imaginação. Eu poderia ter dito a ele que em toda minha vida estive diante de uma máquina de escrever apenas duas ou três vezes, porém não se pode podar a imaginação de ninguém. Por fim começamos a lembrar de alguns textos e eles se saíram melhor que eu, pois possivelmente os destilados ajudaram a acabar com o pouco de memória que eu tinha.

Dias depois descobri que arrumei uma nova paixão, daquelas que já citei por aqui e insisto - se você nunca leu nada sobre mim precisa saber - tenho um fraco por garotas lindas, tatuadas, magras, de pernas finas e barriga reta. Esta nova garota que conheci só não é tatuada e me vi apaixonado em pouquíssimo tempo. Trata-se de uma perfeita combinação de tudo que almejo e é claro que ela deve ter todos os defeitos do mundo como todas as outras pessoas do universo e seria tedioso caso não tivesse. Como aqueles momentos que você leva um choque quando toca em alguém, foi assim quando toquei sua cintura, por um leve momento. Mais um esbarrão que um toque e eu pude sentir sua cintura fina, barriga lisa e naquele momento eu a vi nua - só em minha imaginação, claro - estendida em minha cama, com rosto sonolento enquanto eu a observava do lado oposto do quarto fumando um cigarro e desejando que aquele momento não acabasse nunca. Imaginei-a com as pernas levemente dobradas, uma mais que a outra, uma mão abaixo do queixo e a outra repousada na barriga. Magérrima e linda, cabelos emaranhados e eu com dor na bexiga de segurar o mijo sem querer desviar os olhos daquele quadro maravilhoso. Sua cicatriz no rosto perfeito lembrando-me que todo paraíso tem seu porém. Um dramático eu sou? Sim! Um grande romântico? Com certeza!
Sentindo-me um adolescente que sonha acordado com a professora, neste momento eu corei e tão rápido meu devaneio fora que não creio que ela notou minha timidez momentânea. A diferença é que neste caso eu seria o professor do ginásio, afinal, por mais vivida que ela possa ser nada se compara às merdas que eu já fiz, aos infernos que eu já habitei, aos esgotos em que eu já dormi.
Digo que sou um romântico, pois como qualquer tarado - não descarto que eu seja um e dos piores - eu deveria imaginá-la nua e amarrada, nua e bem acordada, nua e realizando as minhas fantasias mais secretas, afinal, devaneio é devaneio, no entanto quis minha mente levar-me para meu quarto e espiá-la dormindo. Talvez isso deva-se ao fato de que tê-la, ali, repousando após o esforço de nos deliciarmos seja a minha fantasia mais secreta, tão secreta que mesmo eu não tinha conhecimento. E eu que sou um rebelde achando que minha maior fantasia obrigatoriamente teria de ser selvagem e violenta. Ao contrário, tão leve como a fantasia de uma garota. Vai entender.


Agora, quero que entendam o motivo pelo qual eu escolhi dividir este pensamento entre tantos que possam ser mais importante ou até mais divertido. Começarei dizendo que meus finais de semana são todos ao extremo como minha vida toda. Ou passo solitário apenas com a companhia do Tédio, ou passo os dias de descanso cometendo das mais intensas colaborações para minha viagem só de ida ao inferno, de acordo com os religiosos. Das maiores atrocidades, até a pele sangrando por unhas femininas. Garrafas e mais garrafas vazias e cama cheia. Então posso dizer que o último fim de semana nada teve de tedioso. Todavia, mesmo com os lábios dormentes, as pernas bambas, as paredes sussurrando pornografias, eu não conseguia me desprender de um pequeno esbarrão da cintura da garota com a pequena cicatriz no rosto.


Bento.

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sábado, 27 de setembro de 2014

O PECADO DE DEUS FOI CRIAR O FEIO. ERROU E TIROU CÓPIAS

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Eu estava parado na frente de casa. Tinha ido buscar as correspondências e recolher a merda dos cachorros e fiquei ali, parado. Era sábado e o carro que vende ovos estava passando por ali. Talvez eu precisasse de ovos, mas me contive. Estava de bermuda e camiseta e apenas os cigarros nos bolsos. 5 Reais a dúzia ele alarmava em seu alto falante e dizia que seus ovos eram os melhores. Como se as cloacas de suas galinhas fossem melhores que as dos outros. O carro dos ovos se foi debaixo de um sol tímido, porém o bastante para criar ânimo suficiente para abrir uma cerveja, eu estava na segunda e não tinha passado das onze horas.

Normalmente eu só bebo cerveja de manhã quando estou de ressaca. Esse negócio de que cerveja é um bom remédio para ressaca não é história, eu aprovo. Confesso que o primeiro gole é difícil, mas depois fica tudo nos conformes. Não estava de ressaca porque cheguei do trabalho no dia anterior e dormi. Estou numa fase de deitar e dormir com uma facilidade incrível. Bebia um gole da cerveja, tragava mais uma vez o cigarro e pensava que caso eu tivesse meus vinte anos novamente estaria me odiando uma hora destas. Vinte anos ou menos. Diria o eu mais jovem que tinha me vendido. Não passava de um coxinha vendido, traidor do sistema. Horas atrás eu estava de sapatos e camisa, como aqueles caras de escritório. Vendido. Por um salário bem maior eu me prestava àquele papel, vestir-me como um idiota. Pensei que já não tinha mais vinte anos e que meus vícios só aumentavam e com isso um salário maior era mais que necessário. E daí que meus sapatos me faziam sentir-me como um palhaço num picadeiro? Eu nunca fui um comunista idiota e nem tinha pais ricos, ou ao menos de classe média, então sempre precisei trabalhar e se este trabalho tinha por fim um salário mais gordo, bem, que sorte.
Passei a pensar que precisava de uma cama nova e maior. Eu estou ficando velho e dormir numa cama de solteiro, velha e acompanhado já não era tão fácil como quando eu tinha vinte anos. Minhas costas, o pescoço, braços, eles reclamavam. Na caixa de correio tinha um jornal das Casas Bahia e talvez por isso passei a pensar em trocar de cama.

Comecei reparar nas pessoas que passavam pela rua a pé ou de carro e lamentei por uma sequencia de dez ou mais pessoas feias. Onze, doze. Comecei a desconfiar daquele dia. Tenho tudo contra pessoas feias. Treze eu contei, incluindo minha vizinha crente e gorda e o cara do carro do ovo. É incrível como existem pessoas feias no mundo, se duvida vá para qualquer lugar público e bem movimentado e comece a reparar. Eu já aprendi a filtrar, a só reparar nas pessoas bonitas. Os belos são inspiradores. Estações de metrô, pontos de ônibus, shoppings, hospitais, só gente feia. Um ou outro que se salva e você aprende com o tempo a filtrar. No entanto, em alguns lugares não existe nada para filtrar. É como derramar água numa peneira. E convenhamos que os feios sejam tão deprimentes. Esse tipo de lugar onde só se vê feiura me causa tédio e depressão. Outro dia estava parado na porta do shopping esperando uma garota e era um dia como hoje. Uma sequência incrível de pessoas feias. Trinta, quarenta... E um e dois e três. Fumava um cigarro e esperava a garota.
Ao meu lado havia três mulheres campeãs em feiura. Uma pior que a outra. Cabelos feios, roupas feias, risadas feias. Uma delas estava grávida e eu pensei: mais uma pessoa feia no mundo.
Entendam, pessoas feias nos trazem pensamentos horríveis. Ao sentir um fedor, por exemplo, você logo procura alguém feio para culpar. Num elevador cheio de pessoas, você sente um cheiro de peido e seu inconsciente já acusa o mais feio porque internamente achamos que pessoas bonitas não fedem e nem peidam, e caso peidem, trata-se de um peido mais ameno. Claro que isso é um absurdo, mas inconscientemente ligamos feiura a fedor. Ser feio realmente é uma tristeza. Feiura lembra pobreza, lembra merda. O pecado de Deus foi criar o feio. Errou e tirou cópias.

Ainda sobre beleza, tenho reparado que as melhores garotas já foram domadas. As belas e estilosas, as belas e inteligentes, as belas e burras, as belas e ricas e também as pobres. Até as belas e lésbicas já foram domadas.
Eu sempre tive como conceito não pegar o que é dos outros. Um pacto que eu fiz com as forças maiores. Realmente um conceito, meu. E como toda regra, minha, eu posso quebrá-la a hora que eu bem entender e por isso, por vezes as quebro.
Então outro dia sai com uma garota, linda, uma delícia, de uma safadeza impar, a ponto de me deixar constrangido, coisa difícil de acontecer, mas constrangido eu fiquei tamanha safadeza, da garota, que era casada. Acontece. E acabou acontecendo e garanto que não me arrependo. Fugir de regras, mesmo que as minhas, ainda me traz certo prazer de jovem. Já que as mais belas já estão com baitas alianças nos dedos alguém tem que sair feliz nesta história toda e eu sempre tendo pro meu lado.

Mas voltando a falar das feias. Outro dia comecei a receber fotos de uma garota, feia, tadinha. Todo dia olhava o celular e tinha uma foto nova desta garota. Começou com fotos normais, depois passou a fotos com caras e bocas até que recebi a primeira foto dela nua. Uma após a outra. Às vezes de manhã, semiacordado, com meu mau humor nas alturas, ainda no primeiro cigarro e aquela visão do inferno no meu celular. Outras vezes de noite, cansado do trabalho, já no último cigarro amaciado pela dose de whisky antes de dormir e me deparo com aquele espanto. Uma mistura de seios asquerosos, rosto perturbador, barriga temerosa, pélvis peluda. Alguém precisa dizer a essas pessoas que ser solteiro não é sinônimo de desespero, nos dias de hoje? E que a intensidade do tesão não vai de acordo com o tamanho de bundas e peitos. Só gosto de abundância de carne nos meus churrascos. Convenhamos, eu tenho uma reputação a zelar.

Bento.

domingo, 14 de setembro de 2014

UMA BOCETA PODE LEVAR ALGUNS HOMENS AO INFERNO ANTES MESMO DE PODERMOS DIZER PUTA QUE PARIU

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Eu conversava com uma garota, e digo, ela não era nada fora do normal. Nem gorda demais, nem magra demais. Mas também não era nenhuma maravilha. Eu não conseguiria me ver casado e pensando em filhos ao lado dela.
Nós não tínhamos transado, porém eu tinha uma leve suspeita de que ela queria. Eu também poderia querer, dependendo do dia e do meu humor, de qualquer forma esperava para ver. E ela me dizia - vocês homens são todos iguais.

Aquela coisa do clichê que se tornou meia-verdade depois de tanto ser repetida. Eu nunca fujo de uma discussão então perguntei o motivo para aquela raiva toda.

- Como assim, amor? Você já ficou com todos nós para saber?

- Não - ela disse - mas já conheci homens suficientes para saber. Namorei duas vezes, durou quase 10 anos ao todo.

- Duas vezes? - Perguntei - Amor, eu já transei com duas garotas na mesma noite e nem por isso digo que conheço todas vocês. E mesmo que eu transe com mil garotas acho que ainda faltará muita coisa pra conhecer.

- Viu? É disso que eu falo. Vocês só pensam em sexo.

- "Vocês", não. Eu sim, só penso em sexo e assumo. Nunca enganei ninguém e também nunca transei com nenhuma santa. Agora, este sou eu. Talvez você esteja responsabilizando todos os homens por erros que seus namorados cometeram. É muita responsabilidade para nós que nem tivemos a oportunidade de ganhar sua aprovação. Cada cara é um cara, eu, por exemplo, não gosto de gordas, mas tem cara que adora. Eu tenho que dar a volta com os dedos na canela de uma garota, caso não consiga eu dou meu veredicto de obesidade. Conheço caras que parecem açougueiros, quanto mais carne melhor. Eu poderia te dar vários exemplos para comprovar que você não tem a mínima ideia do que está falando, mas acredito que já te convenci.

Não a convenci, porém ela desistiu de argumentar, isso acontece na maioria das vezes e com a maioria das pessoas. Alguns simplesmente repetem o que ouvem por aí e não refletem, sequer se aprofundam, logo, qualquer argumento que foge daquilo que ouviram causa pane em seus cérebros de ameba. Mas veja, não estou dizendo que eu deixei de transar com a garota só por causa disso, claro que não deixei.

Houve uma época em que eu estava com uma garota alguns anos mais velha que eu. Ela era quase minha vizinha, morava em algum lugar do bairro e esta era a única coisa que tínhamos em comum. Minto! Compartilhávamos também o vício pelo sexo e todas às vezes eram incríveis. Certa vez, se me lembro bem era meu aniversário e eu nunca escondi a ninguém que odeio meu aniversário por se tratar do início de uma maldição que levarei comigo para o túmulo. Então ela apareceu em casa com uma sacola da loja do Corinthians e me entregou. Eu agradeci e convidei-a para o quarto. Fizemos um sexo intenso e maravilhoso como eram todas as outras vezes só que desta vez foi melhor. Então ela bebeu toda minha porra, colocou a roupa e se despediu. Eu perguntei o porquê ela iria tão cedo, pois eu tinha mais a dar para ela beber e ela disse que só tinha vindo me dar o presente. Era uma garota sensacional, com um corpo perfeito do qual ela usava e abusava e eu nunca saíra descontente, no entanto alguma coisa fez com que eu me afastasse. É bem possível que com o tempo pudéssemos adquirir mais coisas para compartilhar. Mas eu não esperei. Não esperei porque eu não sou de esperar muito e isso pode ser um erro. Algumas vezes eu penso nesta garota. Tentei encontrá-la pela internet e tal, mas não tive sucesso. Pra começar era uma ótima transa, eu deveria ter esperado um pouco mais. O motivo pelo qual não espero é que o único amor que tive foi ligeiro e espontâneo. Duas palavras e um beijo e eu já amava. Talvez não tenha desconfiado logo de cara, contudo meus olhos diziam que era amor.

Quer mais um exemplo? Tinha uma outra garota que tinha sérios problemas com aquela sujeira que acumula abaixo das unhas. Lindíssima a garota e não limpava as unhas. Eu passei algumas semanas falando para ela fazer a higiene completa de seus dedos. Suas unhas eram virgens, claras, era perceptível a sujeira acumulada. Eu falei e não adiantou, então eu passei a limpar suas unhas. Uma por uma, com um cuidado exagerado. Bem, esta garota era o caso de amor ligeiro e espontâneo que eu citei acima. Entendem a diferença? Eu limpava suas unhas e ela espremia meus cravos, na maior parte do tempo contra minha vontade, mas eu adorava todo aquele cuidado. Éramos dois macacos cuidando um do outro.

Mas este macaco tinha alguns problemas onde um deles - e não o mais grave - era fumar 20 cigarros por dia. E esta garota dizia "você fuma demais, pare de fumar. Ou pelo menos diminua". Eu nem parei e nem diminui. Pelo contrário, hoje fumo mais de 20 cigarros. Por isso hoje eu afirmo que nunca vou parar de fumar. Penso que com o dinheiro que eu gasto com cigarros eu poderia gastar com qualquer outra coisa. E não é pouco dinheiro. Mas se começar com isso, podemos contar o dinheiro gasto com cervejas, whisky, conhaque, vodca e  de repente vou me ver rico e morto. Rico e idiota. Enfim, também, conhecendo meus gostos como conheço eu gastaria em outras coisas que fariam tão mal à minha saúde quanto, então continuo fumando. Outra coisa, disse que nunca vou parar de fumar e repito. Pois se eu não parei para atender a um pedido da garota que me amava não pararei por motivo nenhum. Morrerei fumando e saibam que caso sejam convidados para meu enterro levem cigarros ao invés de flores. Nunca se sabe como será do outro lado.

Mulheres tem essa mania de contar as coisas citando o nome dos envolvidos como se nós os conhecêssemos. Exemplo: então eu cheguei à empresa e o Richard estava com aquela cara feita de sempre...
E você se perguntando, mas quem é Richard?

Aí a Laura me chamou para almoçar e nós fomos ao restaurante japonês que eu adoro.
Ok, mas quem é Laura?

E quando eu voltei a Magda tinha colocado três relatórios na minha mesa para hoje. Acredita? Para terminar hoje.
Complicado. E quem é Magda, afinal?
Entende o que eu quero dizer? Mulheres são escritoras por natureza, uma pena elas não saberem disso.

Uma garota que conheci uma vez me apresentou uma de suas amigas. Eu como todo homem pensei em transar com ambas, mas a minha amiga tinha já um namorado, e eu sempre me omiti quanto ao adultério, portanto acabei transando apenas com a garota que me fora apresentada. Tempos depois, após não ter mais contato com essa garota, a amiga minha - após estar solteira - questionou-me sobre o longo tempo que eu havia ficado com sua amiga. Vejam a estranheza. Somente mulheres apresentam outras pessoas àquelas das quais se tem desejo. Homens costumam guardar seus tesouros para si. De qualquer forma acabei me afastando das duas, não antes de prová-las, afinal, seria um desperdício. Acabou que a culpa do fim da amizade das duas caiu sobre mim, típica atitude feminina. As duas decidiram transar com o mesmo cara e o errado fui eu, as duas continuaram "amigas" algum tempo depois. Entre homens as coisas são um tanto diferentes. Homens sempre culpam os amigos inocentando as mulheres, claro que isso deve-se ao fato das mesmas virem ao mundo portando uma boceta e homens são loucos por bocetas. Nós - e eu me incluo muito nisso - somos reféns de bocetas. Não há no mundo qualquer outra coisa capaz de causar a derrocada de um homem, carreira ou nação como a boceta. Eu já vi famílias serem destruídas, filhos ficando sem pai, homens apodrecendo em sarjetas por causa delas. Somos eternos animais amaldiçoados pelo cio. Homens não são controlados por seus pintos, mas sim pelas bocetas, loiras, morenas, negras, cabeludas ou não, roxas, rosas, marrons e não necessariamente limpas. Ah, nós homens. Já vi amigos brigarem com facas em punhos por belas bocetas e às vezes nem tão belas assim. Só para poderem continuar sentindo seu gosto azedo e seu forte odor nas narinas. Todo o resto da mulher é descartável, e neste caso eu já não falo por mim e sim pela maioria. A mulher é descartável, a boceta não. O homem que se acha poderoso, soberbo, indispensável, ou talvez insubstituível e controlador, este homem ainda não se deu conta que somos todos controlados pela tirania das bocetas, o mundo é. Nem Deus, nem o Diabo são capazes de derrotá-las.

Conheci homens que abandonaram tudo, dinheiro, amigos e conceitos simplesmente porque não conseguiam sentir o sabor de uma boceta há anos.

Eu dei toda essa volta para falar de um conhecido que veio para São Paulo de um lugar longínquo fugindo do controle de sua mãe. Independência, ele dizia. Já por aqui conseguiu sentir o sabor amargo da cidade, do calor afetivo dos melhores puteiros da cidade até o frio dilacerante da sarjeta. Independência, ele buscava e conseguiu até o momento que deu de frente com uma boceta dominadora para acabar com seus sonhos juvenis. Hoje, este conhecido não põe o pau pra fora nem mesmo para mijar sem a permissão da vagina em questão. Não engole um chiclete sequer para não sair da linha. Este cara esquecera inclusive a senha do banco, pois seu cartão não o pertence mais. Não lembra-se da cor do dito cujo. A boceta controla seus gastos até com cigarros. Cerveja então deve a todos os amigos de bar, pois é a única forma que achou para beber. Não escolhe suas roupas, nem suas cuecas. Redes sociais somente com compartilhamento de senhas, amizades somente com a supervisão da boceta que o domina. Não dá um peido sem bênção. E eu com minha imaginação fértil já o imagino pedindo permissão para gozar. Logo, não preciso dizer que algumas coisas não são saudáveis. Alguns homens pedem passagem ao inferno por falta de uma boa e rosada boceta, mas uma boa boceta pode levar alguns homens ao inferno antes mesmo de podermos dizer "puta que pariu".


Bento.


domingo, 31 de agosto de 2014

A VIDA NÃO PASSA DE UMA GRANDE ESTEIRA LOTADA DE MERDA QUE VAI PASSANDO E PASSANDO

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Eu voltava do trabalho numa sexta-feira, o dia internacional do pecado, para mim e para o mundo - exceto os religiosos, estes pecam todos os dias. Eu digo voltava porque meu destino era minha casa. Não tinha um puto no bolso. Se for estranho para você ler que eu trabalhei o mês inteiro e estava voltando para casa por estar sem dinheiro, digo que você é uma pessoa feliz, pois a maioria das pessoas conhece o gosto amargo desta frase. O problema de voltar para casa na sexta-feira é que você não fica feliz de encontrar o metrô e o ônibus vazio, pois sabe que todas as outras pessoas estão em bares e puteiros e postos de gasolina, todos com suas cervejas geladas, soltando suas risadas com outras pessoas felizes das quais conseguiram fazer com que seus salários durassem o mês inteiro. Por isso digo que o caminho de volta para casa na sexta-feira tem sabor amargo. O excesso de sangue em sua corrente sanguínea e nada de álcool nas veias tem um sabor amargo. Mas tudo isso ainda pode ficar pior.

Eu tenho um problema com belas garotas. Tenho o problema de querer pra mim qualquer mulher que ultrapasse os limites possíveis de beleza. E ainda existe o fato de que alguns graus de beleza vêm embutidos com uma crueldade ferrenha de trazer-nos para a realidade de que não temos, e ainda potencializado pelo problema de voltar para casa no dia especialmente dedicado a beber e ficar bêbado, muito bêbado. Toda merda feita em consequência do álcool numa sexta deveria ser perdoada. Isso deveria ser lei. O 11° mandamento. As pessoas amam mais na sexta-feira, até. Caso Deus fosse um cara justo ele teria feito duas sextas na mesma semana. Porém, deixo de lamentar-me as injustiças divinas sobre o calendário para falar da tal garota que encontrei no metrô, afinal. Eu já disse aqui que sou um apaixonado por cabelos e mais cabelos negros e longos, no entanto, tenho uma coisa quase edipiana com cabelos loiros e olhos azuis. E digo mais: que se fodam todos os nacionalistas agora. Ela era um belo exemplar de europeia dos países baixos. Difícil até para mim, dramático que sou, traduzir em palavras o motivo da minha camisa ensopada de baba que eu derramava por causa de seu rosto. Tratava-se de um encaixe perfeito de queixo e nariz e olhos e testa e lábios e eu já estava apaixonado antes mesmo de pensar em escrever estas linhas. Quando eu era mais jovem e ainda tinha um bom relacionamento com Deus eu agradecia a Ele por ter minha visão perfeita e poder apreciar tais perfeições colocadas em nosso mundo para lembrarmos-nos de nossos defeitos e limites. Hoje não agradeço mais. Ainda tentando fazer com que vocês imaginem algo pelo menos próximo ao que eu havia presenciado, eu tenho um conhecido que diz que esse tipo de garota é para comer num papai-mamãe básico no intuito de não perder aquele rosto de vista. Tinha um outro que dizia que certas garotas são bonitas até cagando. Essa era um tipo deste.

Mas eu tenho outros vícios além de garotas tão lindas quanto nossas mentes possam imaginar, o álcool e a escrita. Eu sou um reparador irremediável. Você, seu bosta, que está apontando para a tela do computador com seu risinho estúpido desfazendo do autor e dizendo a si mesmo não existir a tal palavra "reparador" no intuito de reparar quero mais é que você morra com uma lança enfiada no cu, pois eu invento o que eu quiser. Então voltamos ao ato de reparar e analisar sobre roupas, dedos dos pés, manchas amarelas nas camisas abaixo das áxilas e por aí vai. Combinações de cores sempre mexem com minha libido por achar que é necessário um extremo bom senso para o êxito nas combinações e lhe digo, engolindo com gosto todas as injúrias que disse em todos esses anos sobre a vestimenta alheia. Digo, pois esta garota estava vestida com uma das piores combinações de todos os tempos e eu me omiti. Não disse uma palavra sequer. Sapatos vermelhos, calças listradas de branco e preto, blusa verde, cachecol roxo e bolsa laranja e eu não fiz uma critica nem mentalmente. Reparei e guardei pra mim no mais profundo âmago. Traí meus conceitos sem mesmo me lamentar, simplesmente pelo motivo de que algumas garotas têm rostos tão perfeitos que nada mais importa. Só fui lembrar-me da sexta-feira deprimente quando ela desceu na estação Paraíso e eu lembrei que talvez eu pudesse estar bebendo com paisagem, na Rua Augusta e me embebedar com a beleza das garotas de lá.

A sexta-feira passou sem maiores problemas e o final de semana também, bem como toda a semana seguinte de trabalho porque as coisas simplesmente passam. A maior parte da sua vida passa e é só isso que acontece. Nada de outro mundo, nenhum incrível fato que mereça comentário. Para quem lê, a sensação deve ser de que a vida de quem escreve é sempre ativa e singular mas a vida é uma merda para todo mundo. A vida não passa de uma grande esteira lotada de merda que vai passando e passando e o pedaço que tem menos merda você acaba por pensar que está melhorando. Então nós que escrevemos cortamos os momentos em que a esteira está cheia e só falamos, pelo menos na maioria das vezes, das partes com pouca merda.

Era uma quinta-feira, eu acho. O frio tinha ido embora e estava um clima agradável e eu estava voltando para casa com um livro de Bukowski aberto. Como ainda era quinta-feira não havia lugar para sentar e eu lia em pé. Até que começou a entrar mais e mais gente conforme as estações do metrô iam passando. Parando e pegando pessoas. Todos voltando ou indo para algum lugar. Do trabalho, da casa do namorado ou namorada. Velhos voltando do médico, crianças voltando da escola. Velhos voltando do médico com suas crianças. Tarados passeando de metrô a fim de esfregar algumas bundas e por aí vai. Eu estava em pé lendo alguns contos de Bukowski, voltando do trabalho numa quinta-feira e reparei ao erguer os olhos que na última estação haviam entrado duas garotas no vagão, desconhecidas uma da outra e além de seus rostos lindos como um gato brincando com uma folha seca, elas eram simplesmente incomuns. Uma era ruiva e a outra loira. Ruiva e loira de verdade. Com sardas e tudo. Vocês sabem como é raro encontrar ruivas e loiras de verdade hoje em dia? Ainda mais no mesmo vagão e horário. Então eu poderia interpretar aquilo do jeito que eu escolhesse e decide interpretar como um sinal positivo. O Destino por alguma razão estava de bom humor e queria que eu soubesse disso. Nunca escondi que o Destino e eu somos arqui-inimigos, mas mesmo nós damos uma trégua de vez em quando.

Então voltando para a sexta-feira maldita da qual eu não tinha dinheiro e nem lugar para ir. Acabei indo para casa. Abri o livro de Bukowski, abri a garrafa de whisky, pois mesmo sem dinheiro o álcool nunca falta. Sempre há uma garrafa de qualquer coisa no frigobar ou na cômoda para saciar minha sede e minha loucura. Abri o saco de fumo, adicionei ao cachimbo, estava pronto. Só faltava a trilha sonora. Fiz uma seleção das músicas de Albert King, Muddy Waters e mais algumas coisas parecidas. Eu lia e fumava e bebia e a sexta-feira dos infernos demorava a acabar. Só parei de ler quando a inspiração deu o ar da graça, deixei o livro de lado e servi mais uma dose enquanto digitava frases e mais frases sobre qualquer coisa. O Destino realmente tinha dado uma trégua. Fiz um brinde em sua homenagem, então.



Bento.

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domingo, 17 de agosto de 2014

30 DIAS E 30 NOITES DE MALDIÇÕES E ATROCIDADES (17 JUL - 15 AG)

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É, eu sou uma cara durão. E isso não é nenhuma declaração de amor. Eu sequer tenho prática de fazê-la, caso pretendesse, faz muito tempo desde a última vez.
Eu sou um cara supersticioso. Isso explica o motivo de minha inimizade com o Destino, afinal sempre tento reescrevê-lo. Eu não sou nenhum religioso, porém sou supersticioso.

Todos temos um dia ruim. Uma data ruim. Os religiosos principalmente. Um exemplo é a quaresma. No entanto, eu tenho um mês sabático em que eu me transformo. É exatamente na virada dos signos Câncer para o Leonino. São trinta dias malditos onde eu não consigo me concentrar em nada, em ninguém e as coisas sempre acabam da pior forma possível. Eu disse malditos? Vocês, em sua maioria provavelmente não sabem bem o que significa isso. Eu já falei sobre meus demônios e é exatamente nesses trinta dias - que se concluem no dia de hoje (15) - onde eles se veem livres para fazerem o que bem entendem, festas e a porra toda.  O mundo não é só o que nossos olhos podem ver. Há mais coisas entre viver e morrer, morrer e viver. Os românticos diriam que sofremos ao perpetuarmos a vontade de nossos corações, e que devemos dar ouvidos apenas a nossa mente. Vou lhe dizer uma coisa: os românticos não sabem nada sobre o amor exceto a autoflagelação. Quando mente e coração apontam para o mesmo lado não há o que fazer a não ser tentar enfraquecê-los e é isso o que bêbados como eu tentam fazer durante suas vidas inteiras mas ninguém entende. Não entendem porque apenas quem passa por isso sabe. É preciso passar por isso para valorizar as migalhas. Mais que a metade das pessoas passam suas vidas inteiras sobrevivendo de migalhas e não se dão conta disso. E eu não estou falando de pobres ou mendigos, estou falando de migalhas sentimentais. Do único caroço de feijão no prato do afeto.

Já reparou como todo fim de Julho é chuvoso e gelado. Eu o reconheço como o olhar num espelho. O Sol parte em complacência. Não há muito pelo que lutar, nem pelo que por a cara para fora de casa. Eu disse que não há muito? Na verdade não há quase nada.
Não quero que pensem que isso é um testemunho de desistência pois não existe nada pelo que lutar. São apenas 30 dias e 30 noites de subsistência, lamentos, perigos, lembranças malignas. Do dia 17 de Julho até o dia 15 de Agosto. É um mês inteiro pelo resto de minha vida que eu relembrarei o quanto uma pessoa pode mudar seu Destino da forma mais incompetente possível. Mudá-lo para pior, bem pior. Lembrar e lembrar o quão fundo pode ser o fundo do posso, o quão frio pode ser o inferno. E o quanto pode ser inútil uma declaração de amor após você ter feito coisas das quais passaria o resto da vida se lamentando. Provavelmente é como ser responsável pela morte de alguém que nutre um sentimento profundo. Foi isso que fiz. Causei a morte. Talvez a própria. A morte de outrem. Sou eu, o assassino do amor, não agi sozinho, mas fui o mandante e o executor. Conviverei com isso querendo ou não.

O bem da verdade é que relembro que o último 15 de Agosto que realmente importava comemorar eu abri mão. E isso, definitivamente começou a matar o tal do amor. Como um câncer. Começou ali e claro que como todo assassino eu não desisti, passei a matá-lo aos poucos, como que o torturando. Matei matei matei. E pago por isso até hoje em cárcere privado. Privado das coisas que eu mais acho importante.

A vida é bem mais que isso - vão dizer - e é por isso que minha maldição dura apenas um mês. Caso contrário duraria todos os outros que me restam para tentar fugir desta prisão, ou pelo menos tentar um indulto. Podem dizer que eu sou um exagerado e que eu faço muito drama até mesmo para quem escreve. Eu responderei que para quem escreve nunca existirá drama demais, apenas o drama bom ou ruim. Não se vive a vida sem alguns lamentos, mas com minha mania de grandeza quis eu exagerar no tamanho do erro. Poucos sabem dessas minhas mazelas, da verdadeira história de amor e ódio como uma novela mexicana e quem conhece não acredita que possa ser verdadeira. Sequer eu acredito que pude ser tão traíra comigo mesmo. Mas as maiores tragédias são as mais inacreditáveis, se são.

Lembro-me como se fosse hoje. Do dia que eu me sabotei, hoje, exatamente completam 5 anos. E ainda lembro-me como se fosse hoje. Dos olhos de quem me via com a admiração que só quem ama pode compreender saía a mais completa decepção e na hora eu não percebi, ou não quis perceber. Os que defendem minha inocência dizem que não passou disso, que eu fui inocente. Talvez eu tenha sido, mas não vou me enganar nem enganar quem me lê, esta não foi minha única tentativa de assassinar o amor. Desde este dia eu passei a ser um sociopata em busca de sangue. Eu praticamente abri meu peito à unha e despejei todo seu conteúdo no esgoto. Ainda me resta o sangue nas mãos, o gosto de morte na boca, os pesadelos noturnos.

Como a maioria dos assassinos eu poderia me esconder atrás da religião e pedir perdão a Deus. Eu poderia andar por aí pregando minha infelicidade de ter cometido tal atrocidade com o sentimento que eu queria tão bem, porém isso me soaria clichê demais e eu passei a odiar clichês. E digo que estes 30 dias, dos quais eu tenho que suportar todos os anos, talvez tenha saído barato. Talvez eu tenha saído no lucro, afinal, desde então eu passei a escrever com a companhia destes demônios e não consigo me ver fazendo qualquer outra coisa. Como veem, o Destino tem formas muito estranhas de brincar conosco.



Bento.

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domingo, 10 de agosto de 2014

NÓS HOMENS PROVAVELMENTE VIVEREMOS A VIDA TODA SEM SABER NADA SOBRE O AMOR

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Nos meus tempos de escola, na juventude, quando eu ainda sonhava com um futuro próspero, a mulher dos meus sonhos e conquistar o mundo, sempre ouvia a mesma coisa dos professores, abre aspas; tão inteligente, mas... Fecha aspas.

Eu nunca fora um bom aluno. Nunca tive muito respeito por nada. Arrogante que eu era (?), me mantinha à margem das regras que me eram impostas. Fiz atrocidades com colegas de classe que provavelmente estes têm suas psiques abaladas até hoje e ainda assim, toda bronca só vinha após um elogio. Tão inteligente, mas...

Penso que não é tão diferente hoje. Há sempre um porém em tudo que me rodeia. Conheço e conheci tantas pessoas, porém nenhuma delas - talvez só uma - consegue entreter-me com tanto prazer quanto a solidão da escrita. Escrever sempre fora uma ação silenciosa e solitária e mesmo quando acompanhado trato de fugir ao banheiro para agarrar a inspiração pelos cabelos e impedi-la que fuja.
Tenho um senso de justiça que julgo - caso discordem façam com bons argumentos - ser dos maiores que conheço, porém na única vez que isso poderia mudar minha vida o fez para pior. Falhou, talvez, ou não, mas é certo que mudou e para pior.

Um amigo uma vez me pediu ajuda dizendo "você que entende mais de mulheres...". Respondi que poderia ajudá-lo a falar com ela, convidá-la para sair, até sobre preliminares, mas que quando chegasse o amor, o casamento e os filhos ele estaria por conta própria, eu sei de algumas coisas, porém meu conhecimento sobre relacionamentos é como o verão, vem, traz com ele festas e passeios e depois vai embora deixando saudade e tempestade.
Também não pensem que é difícil para eu admitir que não sei quase nada sobre amor. Nós homens provavelmente viveremos a vida toda sem saber nada sobre ele. É fácil porque não se pode ter conhecimento de tudo. Não se pode ser bom em tudo. Veja nosso ex-presidente, por exemplo, foi ótimo com nosso dinheiro em seu bolso, nem tanto com as palavras. A atual presidente deve ser uma boa pessoa para se conversar durante um churrasco de domingo ou uma festa infantil no sábado à tarde, mas deve ser uma péssima cozinheira, afinal, não se pode entender de temperos quando se está armada de metralhadoras assaltando bancos para financiar a revolução.

Não se pode ter tudo, não se pode saber tudo. Sabem quem mais entende de amor? A mulher. Nós homens amamos, mas amamos uma ou duas vezes na vida. Uma garota com uma bela bunda que passa ali, na rua, enquanto você está fumando um cigarro durante o pequeno intervalo no trabalho, você acaba amando, porém não é aquele AMOR todo. Nós amamos instantaneamente, de leve, como lança-perfume, já as mulheres amam como cocaína, é preciso reabilitação para largar. Um exemplo: na adolescência eu amei loucamente a Alicia Silverstone, aquela mesmo dos vídeos do Aerosmith. Imaginei-me tendo filhos com ela, apresentando-lhe aos amigos e bebendo cerveja, nós dois no boteco ao lado de casa. Cheguei até procurar alguns de seus filmes na locadora, mas ficou nisso. As mulheres quando amam gritam, choram, esperneiam, escrevem cartas, fazem tatuagens, colecionam fotos, artigos, revistas, enfim. A mulher sempre foi mais aplicada no amor. Elas são donas do amor, proprietárias únicas. Nós ainda engatinhamos nessa coisa de amar. Não estamos tão longe de aprender, veja, caso amassemos as mulheres como nós amamos futebol e cerveja, estaríamos bem próximos do conhecimento que as mulheres têm do amor, no entanto não chegamos lá ainda.

Além disso, reparem na astúcia da mulher em relação ao amor. A mulher pode amar cem vezes durante toda a sua vida e todas as vezes o amor é verdadeiro, só que a mulher aprendeu a sobreviver ao amor. A mulher aprendeu a domesticar o dito cujo e vencê-lo. Terminou o amor e elas estão prontas para outro. Claro que existe um período de tristeza e etc., mas sempre sobrevivem. Agora, pergunto a você, já reparou num homem que perdeu o grande amor da sua vida? Difícil reparar porque ele deixa de existir, caminha à míngua pelas ruas, bêbado, louco, um trapo. Isso se deve ao fato do homem não saber amar. É falta de prática. Morre interiormente. Deseje a morte ao seu inimigo, mas não torça para que ele perca seu grande amor, pois isso é bem pior. Um homem pode viver a vida inteira sem muitas coisas, mas nunca poderá viver sem seu amor. Foi assim que surgiram as guerras, os poetas, os psicopatas, a sunga e a meia social. Queira ver uma matança de animais, mas não um homem que perdeu o amor. Não há nada mais triste, é preciso ter estômago. E então, depois da perda, pode ser que este homem venha a encontrar um segundo amor, ele não facilita, mas pode acontecer, porém, até lá ele já deixou um rastro enorme de merda, de destruição, de ressacas morais e todo o resto.
A mulher ama mais e ama em maior quantidade de vezes e todas elas são de puro amor verdadeiro. Ama até o último trago, ama até o fim ou até achar algo melhor para amar.

Eu amei uma vez. Talvez, tratando-se deste exemplo de amor do homem, usar a frase no passado não esteja correto. Mas esse amor é aquele amor de mulher, amei - ou amo - mesmo, com todas as forças. Mas no que eu sou bom mesmo é no amor típico de homem, o amor lança-perfume, o amor mais carnal. Lembro-me da última vez que tive esse tipo de amor. Já era a segunda vez que eu ficava bêbado no mesmo dia. E eu estava muito bêbado, de evitar levantar-me da cadeira para não entregar minha embriaguez. Bebendo comigo e mais alguns caras estava uma garota linda, de uma beleza radical, mas não unânime. Todos a chamavam de Leila. Leila era branca como a bunda de um albino no inverno. Aquilo me deixava intrigado, um sol de trinta graus, ela branca como leite e não havia sequer um sinal de vermelhidão em seu rosto. Vestia uma camiseta rasgada tão branca quanto sua pele e um jeans que desenhava toda sua bunda e perna e panturrilha. Era realmente um belo espécime de mulher-garota e tomei como objetivo - depois de perceber que seria difícil levantar-me dali - que não perderia aquela bunda de vista. Então todos os caras não desistiam de puxar conversa com Leila. Todos queriam possuí-la, até porque as outras opções de garotas não passavam nem perto da beleza de Leila. Os caras faziam graça e Leila sorria com seus dentes quase amarelos por causa dos cigarros – imaginei - seus dentes e seus lábios enormes e rosa. Eu a seguia com os olhos e ouvia todas as piadas e continuava bebendo. Eu também a queria, mas nenhuma parte do meu corpo me passava confiança de que iria levantar, não com aquela quantidade de álcool correndo pelas minhas veias. Até o álcool tem seu porém. Nessa hora já havia um ou outro cara sem fé que não disputava a atenção da garota de neve, então estes caras se contentavam com a atenção das garotas feias. E alguns até se sairam bem. O tamanho do ganho também tem a ver com o tamanho da aposta. Logo um outro cara puxou uma história das antigas, uma situação louca entre tantas que fugimos da morte por um triz e todos estavam em minha volta ouvindo minha parte da história. Eu estava bêbado, mas ainda lembrava dos detalhes, certas coisas são impossíveis de esquecer. Com todos os ouvidos e olhos apontados para mim percebi que era nesta hora que eu faria valer minha posição privilegiada de anfitrião, causador de confusões e orador de teorias mirabolantes. Foram mais ou menos 30 minutos dos olhos azuis da garota cor de papel em cima de mim, até todos começarem a se dissipar para esvaziarem suas bexigas e foi só por este motivo que eu consegui levantar de minha cadeira me esforçando para não tropeçar. Fui ao banheiro e mijei como quem não mijava há anos. Balancei uma porção de vezes até que não sobrasse nada. Perdi tempo, pois sempre sobra uma gota ou outra. Lavei as mãos olhando meu rosto ao espelho e me achei feio. Veja, eu me acho um cara bonito, um cara charmoso, porém quando bebo não gosto dos meus olhos, acho-os caídos. Bolsas abaixo das pupilas. Enfim, me olhava e não gostava do que via, no entanto não era o momento para eu me prender àquilo. Decidi jogar uma água no rosto, ajeitar o cabelo, não resolveu minha aparência e eu pensei: bem, foda-se. Acendi um cigarro e abri a porta para sair. Esperando do lado de fora também para atender ao chamado da bexiga estava Leila com seus olhos azuis me encarando. Neste momento ela era mais linda do que qualquer garota no mundo, afinal ela estava na minha casa, no meu banheiro e eu estava bêbado e ao contrário do que acho de mim quando bebo todas as outras pessoas acabam ficando mais atraentes. Quem bebe sabe. Sorrimos ao nos encararmos, ela entrou no banheiro e eu fiquei ali fumando e olhando para as paredes do meu quarto. Já as conhecia como a palma da minha mão, mas precisava passar o tempo. Podia ouvir a urina de Leila caindo na privada. Cada esguicho, cada gota. Pude ouvir a água da torneira na pia indo embora pelo encanamento enquanto ela lavava as mãos. De repente silêncio, talvez ela também estivesse parada em frente o espelho olhando-se e conversando consigo mesma como eu também havia feito. Ela finalmente abriu a porta e encontrou meus olhos mirando os olhos dela. Eu sorri, ela também sorriu e eu voltei a entrar no banheiro, agora junto de Leila.

Foi então que tive um desses amores que só os homens conseguem ter. Rápido e intenso como o sexo que fizemos. Leila era toda branca e rosa, assim como seus lábios e eu pude provar todos eles. Eu estava amando e no quarto alguém tinha colocado uma seleção de músicas para tocar que por coincidência começou com Honky Tonk Woman e não é segredo para ninguém o quanto eu aprecio Rolling Stones. Era amor, puro e puto amor. Transpirávamos ali juntos, eu ainda vestido com a camiseta e as calças na altura dos joelhos, a calça dela na mesma situação, porém sua camiseta branca rasgada estava pendurada no suporte para toalhas. Eu amei como os homens amam. Se ela me pedisse em casamento ali eu aceitaria. Conversaríamos sobre os nomes de nossos filhos e aposentadoria. Um amor com trilha sonora, romantismo à flor da pele e um sexo sem igual até aquela hora. A fatídica hora em que estava prestes a chegar ao ápice de todo aquele momento épico. Eu já podia prever os fogos de artifício, os pássaros no telhado cantando. O Diabo sorrindo de seu trono somando mais um pecado para sua coleção. Os anjos me saudando por tonar o mundo um pouco menos chato. Pedi que Leila ajoelhasse para que selássemos aquele amor e ela ajoelhou. Mas logo depois advertiu: não goza na minha cara.

E foi ali, naquele momento que eu deixei de ama-la. Os anjos viraram as costas, os pássaros deram um rasante procurando outro telhado para cantar. O Diabo contorceu-se lamentando seus tempos de glória. Meu coração partiu em pedaços e eu deixei de amar Leila.  Deixei de ama-la porque todas as garotas – com exceção de uma – tem o seu porém.



Bento.

sábado, 2 de agosto de 2014

ENQUANTO OS HOMENS DESEJAM SECRETAMENTE UMA MULHER MAIS MAGRA, MAIS GOSTOSA E QUE CHUPE SEM FAZER CARA DE ASCO

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Eu já disse que pouco sonho e odeio quando sou interrompido de um sonho bom exatamente por sua raridade. Eu deveria odiar meu celular que me acorda todos os dias e é bem possível que odeie. Um homem deveria ao menos ter direito de dormir tempo suficiente para sonhar. Mas só o que nos resta é sonhar acordado, dormir é para os privilegiados.

Houve um tempo que eu podia dormir e sonhar e voltar a dormir. Fiz isso durante quinze anos da minha vida. Naquele tempo eu só tinha a escola para me chatear e mesmo assim podia voltar pra casa e tirar um cochilo durante a tarde enquanto assistia um desenho e outro. Quando criança eu fiquei um ano inteiro vivendo de escola e desenhos animados, sem sair de casa para mais nada. Tínhamos mudado para uma nova casa, num bairro novo e eu não conhecia e não me lembrava de querer conhecer nenhuma das crianças vizinhas. Belos tempos aqueles. Era lindo. Bem, isso durou um ano, depois eu passei a sair na rua e conhecer a todos. Não sem antes arrumar algumas brigas por causa de futebol e outras coisas. Na escola eu não deixava de arrumar brigas. A primeira, que eu me lembre, foi por ser novo na escola, a segunda foi por ser novo na nova escola. Curioso é que parecia que todos os alunos se conheciam, eu era o único estranho. Todas as outras crianças pareciam morar na mesma rua e ninguém da minha rua estudava na mesma escola que eu. Isso era um sinal, ou não. Até chegar a adolescência eu tive que bater e apanhar uma porção de vezes.

Então isso era tudo o que eu sabia da vida: me defender, correr quando fosse preciso, e que um cochilo de tarde após o almoço é uma das coisas mais maravilhosas que existe no mundo. Sobre mulheres eu não conhecia absolutamente nada, ganhara um beijo de uma garota uma vez e era só isso que eu sabia da vida, até os meus quinze anos quando comecei a trabalhar, aí nada mais fez sentido. Como podemos viver a vida quando tudo o que temos tempo é para trabalhar, estudar e dormir? Sobra o quê? Duas ou três horas para que possamos comer, cagar e nos lavar. Que espécie de vida levamos? Lembro-me das aulas de biologia no ginásio e mesmo que por vezes eu já estivesse bêbado, ainda me lembro da professora de avental branco, belas pernas bronzeadas abaixo da saia e cabelos tingidos de loiro dizendo que a diferença entre nós e os outros animais é que somos racionais. Hoje me pergunto onde está essa racionalidade toda quando jogamos toda nossa vida fora fazendo coisa das quais não temos a mínima vontade de fazer? Veja os homens com seus ternos horríveis debaixo de um sol de 30 graus, numa poluição que nos seca a garganta e assa as narinas. Suas decepções estampadas em seus rostos, suas mulheres deprimentes e obesas desejando um marido melhor que pudesse lhe dar o luxo de saírem daquele ambiente nojento de transporte público e chefes de setor ignorantes e rabugentos. Enquanto os homens desejam secretamente uma mulher mais magra, mais gostosa, que chupe sem fazer cara de asco. Que engula a porra toda, que não tenha marcas de lingerie e que não os lembrem de que não passam de uns fracassados que não conseguem tirar suas mulheres deste ambiente nojento de transporte público e 25 de Março e praças de alimentação de shoppings lotados de pessoas tão deprimentes quanto eles. E são os animais os irracionais?

É interessante que todos fazem questão de demonstrar que tudo está bem e dentro do que planejaram. Claro que ninguém planeja trabalhar o dia todo vestido como um idiota e mastigar seu almoço seco requentado pelo microondas. Assim como nenhuma mulher deseja ver suas calcinhas com dois anos de uso penduradas do avesso no varal com o fundilho já gasto e amarelado assistindo seus filhos catarrentos clamando por presentes e passeios que o casal não pode bancar. Os mais chatos diriam que devido aos contos de fadas as garotas aprendem sempre a desejar o príncipe encantado, eu já acho que isso é mais Darwinismo. Porém, dizendo bem a verdade, ninguém gosta da miséria, da pobreza, nem homens nem mulheres, mas somos nós homens que acabamos arcando com a responsabilidade e não tente maquia-la, não tente florear a pobreza.

Desculpem-me se pareço repetitivo em relação a mulheres feias e gordas, no entanto peço que reparem nas cerimônias de casamento dos miseráveis e verão que ao seu lado haverá uma noiva que espelha exatamente sua vida: feia, pobre, infeliz, medíocre e com cara de 25 de março. Assim como as lembranças de casamento, os arranjos de flores, os sapatos e convidados.  Não superestime a pobreza, pois uma cerveja de mil reais sempre será melhor que a cerveja de dez reais. E a puta de mil reais sempre será melhor que a puta de trinta. O boquete de quinhentos sempre será melhor que o de cinco conto na esquina abandonada. O sexo no banco de couro de um carro alemão sempre será melhor do que o sexo no estofado rasgado do Chevette.

Inclusive o olhar de seus sogros é diferente de quando você é um banqueiro ou um escritor bêbado que nunca foi publicado. Até o olhar de sua mãe é diferente, afinal sua mãe também é mulher. E mesmo que algumas linhas e frases de efeito te ajude a transar com infinitas garotas e que algumas delas sejam as mais lindas e sexy que você já viu, saiba que seu casamento ainda será com uma garota gorda, com o buço cabeludo e verrugas anais. Com suas irmãs, primas e tias tão horríveis e bregas como a noiva, salgadinhos frios e cerveja quente ao melhor estilo 25 de Março, pois as garotas lindas e sexy e inteligentes e magras se casam com senhores ricos e barrigudos que as trairão com outras garotas lindas e sexy e inteligentes e magras. E quando você tiver ciência disso poderá ser livre e deitar sua cabeça no travesseiro em paz.