Finalmente depois de
algumas semanas resolvi me barbear. Era uma barba tediosa. Curioso é que minha
barba é vermelha. Como um pirata. Meu bigode é preto só que a barba é vermelha.
Algo de minha progênie espanhola, porém pelo tanto que eu bebo, devo ter algo
de irlandês também. Então foi uma boa ideia fazer a barba. Ok. Começo ruim. Se
você conseguiu ler até aqui então parabéns para você. É isso o que o Tédio faz
conosco. Até para um escrevinhador de realidades como eu, em algum momento
falta-me inspiração. Quem sabe até o final não melhore.
O que acontece é que
eu me comprometi com o "Jack" no rótulo da garrafa de que acabaria
com todo o whisky esta noite e eu pretendo fazer isso. Mas ninguém bebe e olha
para o teto. No máximo para uma janela, mas ninguém consegue beber e ficar
olhando para o nada sem fazer nada pensando em nada. Porém isso aqui está
péssimo e eu continuo pressionando as teclas sem direção e sem sentido. Tenho
uma coisa prefixada em minha cabeça só que eu quero pensar em outra coisa agora.
Odeio escrever sempre sobre a mesma coisa, é entediante, é chato. É estupidez.
Bom, o fato é que sem
barba eu tirei uns 40 anos do rosto. Até pareço um jovem saudável de classe
média se eu esconder todas as tatuagens e der um belo sorriso otimista. Só que
eu não sou de sorrisos gratuitos.
Enquanto fazia a barba
eu pensava no que eu faria depois disso e eu não consegui pensar em nada. Não
tenho nada para fazer e isso é ótimo. Se eu caísse aqui no banheiro devido um
infarto ou qualquer problema de saúde só me encontrariam depois de semanas. Não
tenho planos, nem compromissos. Até um café que tinha marcado para terça-feira
fora adiado. Adiado, espero. Sequer minhas roupas precisam ser lavadas. Compro
cigarros e bebidas para durarem por dias para que não precise por a cara na
rua.
Algumas pessoas dizem
que quem escreve precisa estar no meio das pessoas para terem inspiração e eu
discordo drasticamente. Minhas inspirações têm sido uma só. E eu já vi muito do
mundo e não gostei do que vi.
Eu sou um VELHO acabei
concluindo. Faço tudo devagar. Faço a barba devagar, me visto devagar. Até meu
cigarro tem demorado mais para chegar ao filtro. Tenho tanto tempo sobrando que
a pressa não faz nenhum sentido. Planejo há três dias cortar as unhas. Tempo,
tempo, tempo. Que coisa é o tempo. Eu tenho um milhão de músicas no computador
e já ouvi todas elas. Duas vezes. Sou um velho de vinte e poucos anos. Que
depois de muito tempo pensando sem fazer exatamente nada decidi que não vou
mais me envolver com garotas perto dos 18. Estou velho demais para isso.
Também, no que eu estava pensando, que sou algum professor de ginásio por
acaso?
Provavelmente você
está pensando que tem alguma coisa a ver com sexo. Mas acredite, sexo é o que
menos tem a ver com isso. Também não tem nada a ver com sentimentos ou esse
tipo de coisas que as pessoas espalham por aí para que justifiquem suas
anomalias e atitudes infundadas. É mais uma porta que se abre e você pensa: Ok. Porque não? O que vai passar na TV
amanhã? Bem, aquele velho bar está falido. Vou ver o que tem nesta porta. Não
tem nada de especial. Apenas aquela coisa INSUPORTÁVEL que me faz perder o rumo
e querer achar um rumo juntos. Fora isso todo o resto não me apetece e todo
esse desprendimento pode até parecer falsidade ou orgulho, porém, foda-se. Isso
também está entre as coisas das quais eu não me importo muito. As poucas coisas
que me interessam eu faço uso delas e estou bem, obrigado.
Meus cinzeiros estão
todos transbordando de bitucas. Há copos vazios e sujos de alguma coisa alcoólica
espalhado por todo lugar. E o único som alheio que eu ouço é a descarga vinda
do banheiro do vizinho.
Descobri através de
conversas que lá fora está um frio horrível e tempo de chuva sempre tem um tom
de dramaticidade. Logo, eu fui também contagiado. Estou a dois dias de tirar um
dente que me causa dor há uma semana e já estou com saudade. Apeguei-me a ele.
Ele estava ali, ao fundo, escondido por anos e só o notei quando começou me
causar dor e agora sou simpático a ele. Sempre me apego por coisas que me
causam dor. Sou um sado talvez. Quem pode me culpar? Isso pode ser basicamente
o intuito de sentir-me vivo, ativo, respirando. Gosto tudo à flor da pele.
Beijos com mordida e sexo com arranhões. Não é a toa que deixam marcas, tudo que
é bom deixa. Chupadas, arranhões, mordidas e mais chupadas e puxões de cabelo.
Por fim, tive de sair
do sossego de meu quarto e resolvi sentar no bar, sozinho. Já que tomei um bolo
hoje, estou no bar, pois nenhuma outra companhia me interessa por hora. Balcão
gelado, até os mosquitos desistiram de sobrevoar os pedaços de porco na estufa.
Está um frio de matar. Os balconistas nordestinos falando alto e os bêbados
diários estão aqui, nunca desistem de tentar melhorar o que os assola, o
sofrimento de casa que esquecem no bar. Estes nunca desistem. Bêbados são um
exemplo de vida. Sempre em frente.
Pedi um café que por
sinal está fraco e morno. Um café e um conhaque, com este frio. Para comer,
nada. Meu dente não permite que eu coma. E não poderei beber por dias, então, é
o meu "até logo" para o álcool. Nos vemos semana que vem.
É o que eu digo para
você: até semana que vem, espero.
Bento.
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário