terça-feira, 2 de julho de 2013

NÃO SOU DE SORRISOS GRATUITOS. ( Chupadas, puxões de cabelo e arranhões)

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Finalmente depois de algumas semanas resolvi me barbear. Era uma barba tediosa. Curioso é que minha barba é vermelha. Como um pirata. Meu bigode é preto só que a barba é vermelha. Algo de minha progênie espanhola, porém pelo tanto que eu bebo, devo ter algo de irlandês também. Então foi uma boa ideia fazer a barba. Ok. Começo ruim. Se você conseguiu ler até aqui então parabéns para você. É isso o que o Tédio faz conosco. Até para um escrevinhador de realidades como eu, em algum momento falta-me inspiração. Quem sabe até o final não melhore.

O que acontece é que eu me comprometi com o "Jack" no rótulo da garrafa de que acabaria com todo o whisky esta noite e eu pretendo fazer isso. Mas ninguém bebe e olha para o teto. No máximo para uma janela, mas ninguém consegue beber e ficar olhando para o nada sem fazer nada pensando em nada. Porém isso aqui está péssimo e eu continuo pressionando as teclas sem direção e sem sentido. Tenho uma coisa prefixada em minha cabeça só que eu quero pensar em outra coisa agora. Odeio escrever sempre sobre a mesma coisa, é entediante, é chato. É estupidez.

Bom, o fato é que sem barba eu tirei uns 40 anos do rosto. Até pareço um jovem saudável de classe média se eu esconder todas as tatuagens e der um belo sorriso otimista. Só que eu não sou de sorrisos gratuitos.

Enquanto fazia a barba eu pensava no que eu faria depois disso e eu não consegui pensar em nada. Não tenho nada para fazer e isso é ótimo. Se eu caísse aqui no banheiro devido um infarto ou qualquer problema de saúde só me encontrariam depois de semanas. Não tenho planos, nem compromissos. Até um café que tinha marcado para terça-feira fora adiado. Adiado, espero. Sequer minhas roupas precisam ser lavadas. Compro cigarros e bebidas para durarem por dias para que não precise por a cara na rua.
Algumas pessoas dizem que quem escreve precisa estar no meio das pessoas para terem inspiração e eu discordo drasticamente. Minhas inspirações têm sido uma só. E eu já vi muito do mundo e não gostei do que vi.

Eu sou um VELHO acabei concluindo. Faço tudo devagar. Faço a barba devagar, me visto devagar. Até meu cigarro tem demorado mais para chegar ao filtro. Tenho tanto tempo sobrando que a pressa não faz nenhum sentido. Planejo há três dias cortar as unhas. Tempo, tempo, tempo. Que coisa é o tempo. Eu tenho um milhão de músicas no computador e já ouvi todas elas. Duas vezes. Sou um velho de vinte e poucos anos. Que depois de muito tempo pensando sem fazer exatamente nada decidi que não vou mais me envolver com garotas perto dos 18. Estou velho demais para isso. Também, no que eu estava pensando, que sou algum professor de ginásio por acaso?

Provavelmente você está pensando que tem alguma coisa a ver com sexo. Mas acredite, sexo é o que menos tem a ver com isso. Também não tem nada a ver com sentimentos ou esse tipo de coisas que as pessoas espalham por aí para que justifiquem suas anomalias e atitudes infundadas. É mais uma porta que se abre e você pensa: Ok. Porque não? O que vai passar na TV amanhã? Bem, aquele velho bar está falido. Vou ver o que tem nesta porta. Não tem nada de especial. Apenas aquela coisa INSUPORTÁVEL que me faz perder o rumo e querer achar um rumo juntos. Fora isso todo o resto não me apetece e todo esse desprendimento pode até parecer falsidade ou orgulho, porém, foda-se. Isso também está entre as coisas das quais eu não me importo muito. As poucas coisas que me interessam eu faço uso delas e estou bem, obrigado.

Meus cinzeiros estão todos transbordando de bitucas. Há copos vazios e sujos de alguma coisa alcoólica espalhado por todo lugar. E o único som alheio que eu ouço é a descarga vinda do banheiro do vizinho.

Descobri através de conversas que lá fora está um frio horrível e tempo de chuva sempre tem um tom de dramaticidade. Logo, eu fui também contagiado. Estou a dois dias de tirar um dente que me causa dor há uma semana e já estou com saudade. Apeguei-me a ele. Ele estava ali, ao fundo, escondido por anos e só o notei quando começou me causar dor e agora sou simpático a ele. Sempre me apego por coisas que me causam dor. Sou um sado talvez. Quem pode me culpar? Isso pode ser basicamente o intuito de sentir-me vivo, ativo, respirando. Gosto tudo à flor da pele. Beijos com mordida e sexo com arranhões. Não é a toa que deixam marcas, tudo que é bom deixa. Chupadas, arranhões, mordidas e mais chupadas e puxões de cabelo.

Por fim, tive de sair do sossego de meu quarto e resolvi sentar no bar, sozinho. Já que tomei um bolo hoje, estou no bar, pois nenhuma outra companhia me interessa por hora. Balcão gelado, até os mosquitos desistiram de sobrevoar os pedaços de porco na estufa. Está um frio de matar. Os balconistas nordestinos falando alto e os bêbados diários estão aqui, nunca desistem de tentar melhorar o que os assola, o sofrimento de casa que esquecem no bar. Estes nunca desistem. Bêbados são um exemplo de vida. Sempre em frente.
Pedi um café que por sinal está fraco e morno. Um café e um conhaque, com este frio. Para comer, nada. Meu dente não permite que eu coma. E não poderei beber por dias, então, é o meu "até logo" para o álcool. Nos vemos semana que vem.

É o que eu digo para você: até semana que vem, espero.



Bento.

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