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Indica-se ler os episódios anteriores: GIULIARD BORSANDI V
Decidi então tomar uma
no bar para relaxar, ver gente, não que eu goste de multidões ou de muita gente
falando na minha orelha, mas às vezes até um solitário como eu precisa de
atenção.
Resolvi parar num bar
ali pelo centro mesmo, perto do escritório, para o caso de o álcool me tirar o
controle e eu poder ir embora andando sem nenhum acidente.
Não por mim, estou
cagando por mim, faço isso pelas pessoas, pois apesar de não ser nenhum
humanitário e não me importar por quem vive ou quem morre, não quero ter o peso
de tirar uma vida nas minhas costas. Já tenho peso demais, mágoas demais.
Digo que estou cagando
por mim porque no caso de um acidente vai ser um alívio. Ora seu maldito! Estou
falando de suicídio mesmo, quem nunca pensou nisso? Foda-se!
O Ricardinho talvez,
que nunca precisou fazer esforço para nada, teve tudo de mão beijada, tudo que tem
foi o dinheiro do pai que comprou, como o cargo de jornalista investigativo que
era para ser meu.
Ótimo! Tudo que eu
precisava era me lembrar daquele comedor de puta, viadinho. É melhor mesmo eu
ir para o bar.
Chego então por volta
das 22h00min, a fila para entrar no bar vai da porta de entrada até a próxima
esquina. Minha vida já é um tanto tediosa demais para que eu perca meu tempo em
filas, logo, vou cumprimentar Guião, o segurança da casa. Ele é amigo do Cabelo
e eu o conheci andando pelo prédio de Dom Pedro onde tenho o escritório.
Sim, eu só fui
cumprimenta-lo com a intenção de furar a fila, caso contrário eu nem me
moveria. Quem é você para me julgar?
- Como
tá Guião?
Não me perguntem o porquê
deste nome, pois não saberei responder. Eu só conto a história, quem escolhe os
nomes é o autor.
- Giu,
meu chapa! Comé que anda essa força?
Guião me cumprimentou
com um abraço que quase quebra minha coluna em pedaços. Toda pessoa grande
demais acha que todos temos a mesma força que elas.
Guião é um negro de
uns dois metros de altura, chutando baixo e, tantos quilos quanto uma balança
pode contar. Puta cara grande, principalmente perto dos meus quase um metro e
oitenta e setenta quilos. Um bom cara, apesar de ser assustador, é uma figura.
O grandalhão tem uma
leve dificuldade de respirar, muito pela obesidade, afinal sustentar todo aquele
corpo só com dois pulmões é um desafio dos grandes, ainda mais com a quantidade
de fumo que ele consume. Consume e vende os fumos do Cabelo na porta do bar.
- Você
está me matando Guião!!!
Eu disse quase que
sufocado.
- Porra,
foi mal... E então, vai entrar ou está procurando alguém?
- Hoje
eu to de folga, só vou encher a cara.
O segurança então
tirou seu corpo gigante do meu caminho para que eu pudesse entrar.
- Vai lá
poeta, pega leve com as meninas.
Passei pelo corredor
escuro, virei a esquerda e assim que abri a porta fui atingido por uma onda de
fumaça de cigarros -- que era demais até para mim que fumava descontroladamente
-- e música alta.
O bar era dividido em
duas partes, a pista de dança onde as pessoas dançavam como retardados
transpirando em bicas com aquela música eletrônica que faziam meus tímpanos
explodirem e ao fundo da pista tinha um palco que era usado por bandas de Rock
underground em algumas noites.
Do outro lado era o
bar, meu lugar preferido naquele lugar e onde trabalhava Jamaica, a barwoman
que fazia os melhores drinks da cidade.
Jamaica na verdade era
gaúcha, loira de olhos azuis que pareciam fazer parte da decoração e iluminação
do bar. Sardas que cobriam seu pequeno nariz empinado, lábios rosas e cabelos
loiros (quase brancos) parafinados estilo dreadlocks até o meio das costas, que
ela por vezes deixava-os soltos ou enrolados acima da cabeça que me lembrava um
ninho de passarinho. Lá pelos seus 1,70m de altura, magra, com seios perfeitos
e braços longos cobertos por tatuagens, todos os dois, e piercing no nariz e no
buço.
Parecia um anjo, uma
tentação do inferno. Não ficava devendo nada para nenhuma supermodelo dessas
grifes famosas, mas ela queria ser barwoman.
Jamaica era tão linda
que poderia facilmente fazer-me esquecer de Nelia. Chegamos a transar uma vez
no apartamento dela que ficava em cima do bar, porém ela gostava tanto de
mulher quanto eu. Logo, tive de me contentar com as lembranças da minha
ex-noiva.
Ao lado do bar ainda
havia alguns bastões de ferro que subiam do chão ao teto e que algumas strippers
dançavam em troca de alguns reais entregue em suas bocas e elásticos das
calcinhas pelos velhos gordos que sentavam no bar e tomavam whisky com Tônica.
Fui direto me sentar
no bar, é claro. E lá estava Jamaica, sempre absurdamente linda:
- Olá
guri. Quem é vivo sempre aparece.
Ela sorria com aqueles
dentes perfeitos meio amarelados devido aos cigarros e percebi que tinha um
piercing novo na língua.
- Boa
noite magrela.
Era assim que eu a
chamava. - Piercing novo?
- Você
viu? Estou me acostumando ainda... Minha nova namorada tem um e eu fiquei com
vontade também.
Ao ouvir "nova
namorada" senti um ciúme inevitável e uma inveja gigante da vadia que
transava com Jamaica.
- Fico
imaginando onde vai parar essa sua mania de piercing.
- Se é
lá que você está pesando, eu coloquei a semana passada...
Jamaica falava e
sorria com sua voz deliciosamente maliciosa e seu sorriso contagiante. Não
conseguia me manter alheio a ela. Bastava olha-la e meu corpo tremia como um
adolescente babão. Chegava a gaguejar e me embaralhar com as palavras.
- Pena
que eu estou namorando, senão te mostrava.
- Não
fica me provocando que eu te pego aqui no balcão mesmo sua pilantra.
- Hum...
Que delícia.
Era impossível não
ficar feliz perto daquele anjo do inferno. Mesmo para um amargo como eu, era
impossível.
Jamaica me olhava com
seus olhos de piscina e apoiava seus dois braços no balcão, o que fazia seus
seios redondos e lindos ficarem juntos e apontados para a minha cara. Só aquilo
já me excitava.
- Vai
trabalhar magrela! Me trás uma dose, vai.
Jamaica me trouxe um
whisky e uma caneca de cerveja. Misturei os dois e tomei dois goles bem
servidos para matar a sede.
Eis que já estou na quarta
caneca e começa chegar gente. A casa suporta umas trezentas pessoas talvez, nos
dias mais cheios, mas não hoje.
Hoje irá se apresentar
uma bandinha meia boca, ninguém conhece, só quem frequenta o bar mesmo. Eu
prefiro assim, menos gente roçando em mim.
Conheço a tal banda,
tem umas músicas mais ou menos, só o vocalista que me desagrada, bebe demais,
grita demais, e dança como se fosse uma lagartixa com esquizofrenia em cima do
palco.
De qualquer forma, dá para aguentar.
O bar já está cheio e
Jamaica não para. De um lado para outro servindo os recém-chegados. Agora já
estou na sexta caneta e consequentemente a sexta dose de whisky. Jack Daniels,
abaixo disso é água suja. Quando me surpreendo com uma mulher ao meu lado, num
vestido negro que, sentada, quase dava para ver suas nádegas.
- Oi. Posso me sentar aqui?
Ela tinha trinta e
quatro anos. Um rosto de mulher que, sim, eu toparia levá-la até meu escritório
para olhar debaixo daquele vestido, caso ela não fosse um trabalho.
Ela era Janaina Alves,
vocês devem conhecê-la como "mulher do pastor".
Bento.
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